Chile declara zona de catástrofe em área atingida por mais tremores



Marcia Carmo
Enviada especial da BBC Brasil a Valparaíso


O novo presidente do Chile, Sebastián Piñera, decretou nesta quinta-feira zona de catástrofe na região de Libertador O'Higgins, no centro do país, onde foram registrados novos terremotos.
Piñera, que tomou posse nesta quinta-feira, convocou uma reunião de emergência sobre os novos tremores e determinou à sua equipe que faça uma avaliação dos danos.
As autoridades também emitiram um alerta de tsunami, que acabou suspenso mais tarde.
O Ministério do Interior anunciou que, até o momento, não há registro de mortes em decorrência dos novos tremores, que atingiram 6,9 graus de magnitude.
Posse
Os tremores desta quinta-feira foram sentidos no Congresso Nacional, o que obrigou o governo a antecipar a cerimônia de posse de Piñera no Parlamento, na cidade de Valparaíso.
Os cerca de 1,2 mil convidados – entre eles presidentes da América do Sul e o príncipe da Espanha – saíram com semblante assustado do local da posse.
O prédio foi evacuado, assim como as escolas próximas ao Oceano Pacífico, diante do alerta de tsunamis.
O passeio de Piñera em carro aberto pelas ruas de Valparaíso também foi mais curto que o programado. Logo após receber a faixa presidencial, as primeiras palavras do novo presidente foram exatamente sobre o que chamou de “golpes da natureza”.
“Lamentavelmente, a natureza está nos golpeando com muita força. Mas quero pedir calma e tranquilidade a todos vocês. Não estamos só preocupados com as regiões já afetadas, mas ocupados. É momento de manter a calma”, afirmou.
Piñera afirmou ainda que o alerta de tsunami foi acionado “por precaução” e para evitar a repetição do que ocorreu nas áreas arrasadas pelas ondas gigantes em fevereiro.
Nas regiões de Maule e BíoBío, o tsunami arrasou várias cidades e os organismos de emergência foram apontados como responsáveis por não terem acionado o alerta. Piñera reiterou que manterá as tropas das Forças Armadas nestas áreas afetadas.
“Precisamos reconstruir estas regiões e é preciso manter a ordem pública”, disse.
O novo presidente do Chile afirmou ainda que “é hora de secar as lágrimas e colocar mãos à obra” pela reconstrução do país.

Recepção
Piñera conversou com cada uma das autoridades estrangeiras sobre o susto que todos receberam dentro do Congresso Nacional.
“Presidente, que recepção estremecida, não é?”, disse Piñera a Cristina Kirchner, presidente da Argentina.
A presidente respondeu: “Eu percebi que as flores se moviam e aí vi que eram as réplicas”. A outro convidado, Piñera disse, em tom de brincadeira, que sentia que o tremor de terra era “manobra da Concertación para mover o meu chão”.
A Concertación é a frente de centro-esquerda que governou o país durante os últimos 20 anos até lhe passar o cargo, nesta quinta-feira. Piñera é o primeiro presidente de centro-direita a assumir o poder em 52 anos.
Correria
Os novos tremores provocaram correrias nas áreas devastadas pelo desastre de 27 de fevereiro, no qual morreram cerca de 500 pessoas. Nas cidades de Constituición, próxima ao epicentro do terremoto de 8,8 graus de magnitude, e de Concepción, alvo de saques após o desastre, muita gente chorou nas ruas.
Em muitos casos, eles perderam casas e barcos e ainda estão dormindo em barracas. O desespero levou os comerciantes a fecharem as portas, com medo de novos saques.
Em Valparaíso, três horas após os tremores desta quinta-feira, muitos moradores ainda não tinham voltado para casa ou para o trabalho, preferindo estar na parte alta da cidade, já que a parte baixa é muito próxima ao oceano Pacífico.
O jornaleiro Jaime Gómez, de 64 anos, que trabalha em Valparaíso lamentou que os tremores tenham ocorrido em meio à posse do novo governo.
“A mudança política era necessária, mas que pena que meu candidato assuma neste clima”, disse.
“Eu gosto da (Michelle) Bachelet. Mas a mudança fará bem ao país”, disse a dona de casa Verônica Marta, de 65 anos.

BBCbrasil

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