Manifestantes prometem 'derramar sangue' na Tailândia


Os manifestantes esperam coletar mil litros de sangue para banhar sedes do governo tailandês

Milhares de manifestantes oposicionistas na Tailândia estão coletando sangue humano para derramá-lo nesta-terça-feira em frente aos prédios do governo, em Bagcoc, num protesto contra o primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva.
Os partidários da Frente Unida pela Democracia contra a Ditadura (UDD, na sigla em tailandês), também conhecidos como "camisas-vermelhas", já estão acampados no centro da capital tailandesa há mais de três dias e exigem que Vejjajiva dissolva o Parlamento e convoque eleições diretas imediatamente.
Eles apoiam o ex-primeiro ministro e o bilionário exilado Thaksin Shinawatra, deposto em 2006 depois de um golpe de Estado.
A meta do protesto organizado pela UDD é reunir pelo menos 100 mil manifestantes para coletar mil litros de sangue para "encharcar o escritório do premiê", afirmou um dos líderes do movimento, Weng Tojirakarn. ao jornal local The Nation.
"É uma forma pacífica de lutar. Queremos ver se o primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva tem coragem de caminhar sobre o nosso sangue para ir trabalhar no Congresso" disse Weng.
O manifestante afirmou que se Vejjajiva não renunciar, mais sangue será derramado no escritório do Partido Democrático e na residência do premiê.
Os líderes da UDD planejam jogar o sangue em frente ao parlamento hoje às 18 horas de Bangcoc (08:00 em Brasília).
Ultimato
Cerca de 500 enfermeiros e médicos estão coletando as doações em três barracas improvisadas montadas no centro da capital.
A iniciativa não teve adesão total entre os manifestantes, pois alguns temem pelas condições de higiene na doação de sangue.
É uma forma pacífica de lutar. Queremos ver se o primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva tem coragem de caminhar sobre o nosso sangue para ir trabalhar no Congresso.
Weng Tojirakarn, líder da UDD
Além disso, aos poucos, os manifestantes vão abandonando o protesto por estarem esgotados por causa do calor e da longa duração do evento. A manifestação nos arredores do quartel aonde o premiê estaria abrigado teve início na última sexta-feira.
O "banho de sangue" ocorre após a rejeição de Vejjajiva ao ultimato feito pela UDD exigindo sua renúncia e a dissolução do Parlamento até o meio-dia de segunda-feira. Mas o primeiro-ministro disse em anúncio transmitido pela TV que permaneceria no cargo, pois "precisa ouvir a voz de toda a nação, não apenas dos manifestantes".
Incerteza
A situação política na Tailândia é incerta desde 2006, quando manifestantes contrários a Thaksin, os "camisas-amarelas", foram às ruas exigir a renúncia do primeiro-ministro, acusado de corrupção.
Thaksin acabou deposto em golpe de Estado naquele ano, mas mostrou força política em 2008, quando aliados dele voltaram ao poder e ocuparam o gabinete do primeiro-ministro por três meses.
Na ocasião, confrontos entre apoiadores e opositores de Thaksin resultaram na ocupação e fechamento dos dois principais aeroportos de Bangcoc por uma semana.
Atualmente, Thaksin vive exilado, viajando pelo exterior, mas passando a maior parte do tempo em Dubai.
Ele foi condenado à revelia a dois anos de prisão por abuso de poder.
Há pouco mais de uma semana ele perdeu US$ 1,4 bilhão da sua fortuna pessoal estimada em US$ 2,3 bilhões após a Justiça tailandesa concluir que esse dinheiro teve origem ilegal. Os seus simpatizantes afirmam que o julgamento foi político.
Antes de tornar-se primeiro-ministro, Thaksin já era bastante rico e possuía, entre outros negócios, a companhia de telecomunicações Shin Corp. A empresa foi vendida ao fundo soberano Tamasek, de Cingapura, em janeiro de 2006, numa operação controversa que acabou desencadeando os protestos que resultaram em sua queda.

Marina Wenzel
De Bangcoc para a BBC Brasil

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