ONU pede "máxima contenção" após massacre de 500 cristãos na Nigéria



da France Presse, em Nova York (EUA)
da Folha Online

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, instou nesta segunda-feira o povo nigeriano a exercer "máxima contenção" após o massacre de 500 moradores de aldeias cristãs da etnia berom foram mortos em um ataque violento de pastores muçulmanos da etnia fulani.

O temor é de que o episódio de violência extrema, que seria resposta à ação dos cristãos contra os muçulmanos em janeiro passado, evoque retaliação e mais mortes em Jos, no norte da Nigéria.
Ban disse a jornalistas que se sente "profundamente preocupado" com a repentina explosão da violência sectária no país, que, desde 1999, matou ao menos 12 mil.

"Convoco a todos as pessoas envolvidas a exercer a máxima contenção", disse.

O ataque é o mais recente episódio do confronto étnico-religioso na região, que opõe agricultores cristãos e animistas a pastores muçulmanos fulanis na disputa pela exploração de terras.

Armados com revólveres, metralhadoras e machados, pastores da etnia fulani invadiram casas das cidades de Dogo Na Hauwa, Ratsat e Jeji neste domingo e mataram todos que encontraram pela frente.
Em apenas três horas, centenas de pessoas, entre elas muitas mulheres e crianças, foram mortas e queimadas, segundo testemunhas, que descrevem cenas de horror e violência.

A violência deixou ao menos 500 mortos, segundo balanço informado pelo porta-voz do governo do Estado de Plateau, Gregory Yenlong. O balanço foi confirmado por Dan Majang, responsável pela comunicação do Estado de Plateau, citado pela agência de notícias France Presse.

Majang disse que 95 pessoas foram detidas depois do ataque. Testemunhas citadas pelo jornal 'The Nation' disseram que os criminosos eram entre 300 e 500.

A hipótese das autoridades é de que o massacre, ocorrido a menos de 2 quilômetros da casa do governador de Plateau, Jonah Jang, tenha sido resposta dos pastores aos confrontos religiosos de janeiro passado --que deixaram 326 mortos. O incidente foi considerado pelos membros da etnia fulani uma ação organizada dos cristãos para assassinar muçulmanos.

O governo de Plateau anunciou um funeral coletivo para as vítimas. O presidente interino da Nigéria, Goodluck Jonathan, se reuniu com as agências de segurança do Estado e afirmou que os soldados estão em alerta vermelho.

O massacre aconteceu mesmo com a imposição de um toque de recolher, que vigora na região das 18h às 6h desde janeiro passado.

Os conflitos envolvendo cristãos e muçulmanos na Nigéria deixaram mais de 12 mil mortos desde 1999, quando foi implantada a sharia (lei islâmica) em 12 Estados do norte do país.

Relato

Peter Gyang, morador de Dogo Nahawa, a aldeia mais afetada, perdeu sua mulher e dois filhos no ataque. "Eles fizeram disparos para assustar as pessoas e logo as mataram a machadadas", disse ele a jornalistas.

"O ataque começou aproximadamente às 3h e durou até às 6h. Não vimos nenhum policial", disse.
Shamaki Gad Peter, responsável por uma organização defensora dos direitos humanos em Jos, disse que o ataque era "aparentemente" coordenado. "Os criminosos lançaram ataques de forma simultânea. Muitas casas foram queimadas", disse Peter, depois de visitar três aldeias.
"O nível de destruição é enorme", completou.

Moradores citados pelo jornal "The Guardian" disseram que centenas de corpos ainda estavam nas ruas neste domingo, horas após o ataque.

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