Protagonista da oração da propina, deputado Júnior Brunelli renuncia ao mandato



MÁRCIO FALCÃO
da Folha Online, em Brasília

Protagonista do vídeo que ficou conhecido como oração da propina, o deputado distrital Júnior Brunelli (PSC) renunciou nesta terça-feira ao mandato para evitar responder ao processo por quebra de decoro parlamentar na Comissão de Ética da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

A carta de renúncia de Brunelli foi lida na Câmara pela deputada Jaqueline Roriz (PMN). Ele aparece em dois vídeos gravados por Durval Barbosa, delator do esquema de corrupção que envolve o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido).

No primeiro, recebe dinheiro das mãos de Durval. No outro, ao lado de Durval e do ex-presidente da Câmara do DF, Leonardo Prudente (sem partido), Brunelli faz uma oração em agradecimento a suposta propina.

Na carta, o distrital afirma que a oração não tinha motivação financeira e que foi dirigida a uma pessoa que passava por conflitos emocionais.

"A chamada oração da propina, largamente divulgada, não passou de uma manipulação grosseira. Já que aquela prece aconteceu em setembro de 2009 e não em 2006, após o suposto recebimento de ajuda para a campanha política daquele ano. O que fiz, na companhia de um colega parlamentar, foi uma oração que desse ao personagem [Durval] o reconforto espiritual. (...) É importante lembrar que até mesmo Jesus Cristo, o Deus feito homem, não abandonou aqueles que cometeram crimes."

O deputado afirma ainda que o dinheiro recebido de Durval foi para financiar eventos da campanha. "A forma como o tema foi levado à opinião pública, com imagens montadas e manipuladas ao sabor da conveniência dos poderosos de ocasião teve o objetivo especifico de desestabilizar meu trabalho parlamentar e impedir novos horizontes em minha carreira política. Essa é uma pratica comum dos partidos políticos brasileiros."

A interlocutores, Brunelli disse que ainda não descartou tentar se reeleger nas eleições de outubro. Sem responder ao processo de falta de decoro, ele avalia que deixa o foco da crise e pode se restabelecer politicamente para enfrentar as urnas novamente.

A saída de Brunelli da Câmara é a segunda motivada pelas denúncias do esquema de arrecadação e pagamento de propina. Na sexta-feira, Prudente, flagrado colocando dinheiro de suposta propina no terno e nas meias, também renunciou para evitar a perda dos direitos políticos. A renúncia dele foi oficializada na manhã de hoje pela Câmara.

Além de Brunelli e Prudente, a Câmara abriu processo por quebra de decoro parlamentar contra a deputada Eurides Britto (PMDB). A deputada afirma que vai enfrentar o processo que pode levar a cassação.

Em nota publicada em seu blog, a deputada afirmou que o dinheiro que aparece nas imagens colocando em sua bolsa era do ex-governador Joaquim Roriz (PSC). A reportagem não localizou o ex-governador para comentar as declarações de Eurides.

No blog, a deputada explica que o vídeo foi gravado durante a campanha eleitoral de 2006, antes de ela assumir o mandato na Câmara do DF. "Não quero me justificar com isso. O que quero dizer é não houve quebra de decoro parlamentar, porque era antes desse mandato", escreveu Eurides em seu blog, que reproduziu trechos de uma entrevista da parlamentar a um jornal local.

Eurides conta que sempre teve uma "ligação muito estreita, muito amiga" com Roriz, que segundo ela autorizou a realização de reuniões para depois arcar com as despesas. Eurides disse que foram cerca de 12 reuniões entre maio e junho de 2006. Porém, "de certo por esquecimento", o ex-governador não pagou as despesas na sequência dos encontros.

Ao todo, oito distritais são suspeitos de participarem do esquema de corrupção. A Câmara abriu processo contra os três flagrados em vídeos, mas suspendeu a tramitação das representações contra outros cinco. Ficou definido que a Casa vai esperar a conclusão da investigação do STJ (Superior Tribunal de Justiça), para definir o futuro político desses parlamentares.

Também são alvo de pedidos de cassação os deputados Rogério Ulysses (sem partido), Benedito Domingos (PP), Benício Tavares (PMDB), Rôney Nemer (PMDB) e Aylton Gomes (PRP).



Brunelli está de camisa roxa; Prudente, de camisa branca; e Barbosa, de vermelha.

Oação


"Pai, quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos. [...] Nós precisamos dessa tua cobertura, dessa tua graça, da tua sabedoria, de pessoas que tenham, senhor, armas para nos ajudar nessa guerra e, acima de tudo, senhor, todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, todas as nossas atividades, mas o senhor nunca falha... O senhor é quem faz acontecer. [...] O senhor é nossa Justiça, é aquele que me abre as portas... O senhor prevalece", diz Brunelli durante a oração.

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