Potências não aceitam acordo nuclear com Irã para manter um inimigo, diz Lula

SIMONE IGLESIAS
FÁBIO AMATO
da Sucursal de Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira que aqueles que não aceitam o acordo nuclear feito pelo Brasil e Turquia com o Irã "precisam ter inimigos". Ele afirmou que sua ida a Teerã para discutir um acordo com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, foi uma contribuição ao multilateralismo que tem que ser levada em consideração.

"Fomos ao Irã e conseguimos após 18 horas de reunião fazer aquilo que o Conselho de Segurança [da ONU] queria que fosse feito há seis meses. E é muito engraçado que algumas pessoas não gostaram que o Irã aceitasse a proposta, porque tem gente que não sabe fazer política se não tiver o inimigo, e eu sou daqueles que só sei fazer política construindo amigos", disse, ao discursar na 13ª Marcha dos Prefeitos.

Lula disse que fica "triste" porque o Brasil não consegue superar complexo de inferioridade e reclamou da "elite política" que escreve colunas nos jornais criticando sua interferência nas discussões de paz no Oriente Médio.

"Temos uma parte da nossa elite política que escreve colunas nesse país e fica dizendo por que o Brasil tinha que se meter?", disse.

O presidente criticou o isolamento imposto ao Irã e a ameaça de sanções pelo Conselho de Segurança da ONU.

"Aprendi a educar cinco filhos sem nunca dar um tapa na bunda deles. Se bater resolvesse, a gente não tinha tanto bandido nesse mundo", comparou.

Lula afirmou que sua interferência deu resultados e contou sobre negociação que fez com Ahmadinejad pela libertação de Clotilde Reiss, professora francesa condenada por espionagem por sua participação nos protestos realizados no ano passado contra a reeleição de Ahmadinejad.

"Discutir [com o Irã] não foi tarefa fácil. Estamos discutindo há quatro meses com o Irã para a francesa ser libertada. Ninguém sabia, até que ela foi libertada.
Não precisa fazer política pela imprensa", afirmou.

Lula disse esperar que os EUA e o Conselho de Segurança resolvam agora chamar Ahmadinejad para entendimento. "A verdade nua e crua é que o Irã era vendido como se fosse o demônio", disse.

0 comentários:

Postar um comentário