Relatório quer rejeitar homofóbicos nas urnas em 2010

Relatório vai apontar deputados contrários a projeto que torna a homofobia crime; citados serão rejeitados nas urnas

Militantes da Parada do Orgulho Gay pedem a simpatizantes que não votem em candidatos contrários a causas homossexuais 

Em ano eleitoral, a 14ª Parada do Orgulho Gay teve viés político. Ao meio-dia de ontem, numa avenida paulista bem colorida, militantes fantasiados distribuíam panfletos nos quais pediam para os simpatizantes não votarem em candidatos homofóbicos. Na concentração, uma placa gigante trazia a seguinte mensagem: “Vote contra a homofobia: defenda a cidadania”. Todos os atuais presidenciáveis foram convidados, mas nenhum apareceu na parada. Estima-se que cerca de 3 milhões de pessoas tenham acompanhado os 4Km que ligam o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) à Praça Franklin Roosevelt, no Centro.

Segundo a militante Gizelle Freitas, da Associação de Gays, Lésbicas e Transexuais de Ribeirão Preto, a organização não governamental vai preparar um relatório na próxima semana apontando os deputados que votaram contra o projeto de lei que torna a homofobia crime. A proposta tramita no Congresso desde 2006, já foi aprovado na Câmara e vai passar pelo crivo dos senadores.

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), engrossou o coro de quem é contra a homofobia e disse que os políticos deveriam se posicionar sobre o tema. “É importante que a classe política tenha a noção da importância de se combater a homofobia. Como estamos em ano eleitoral, a discussão sobre o tema é mais do que oportuno”, ressaltou. Nas eleições de 2008, Kassab teve a sexualidade posta em xeque pela ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Na parada gay deste ano, a petista não deu as caras.

O governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), disse apoiar o movimento organizado pelos diretos dos homossexuais. “Essa campanha defende a cidadania e, com isso, a democracia pela qual tanto lutamos neste país. E é importante que este debate aconteça durante a campanha eleitoral deste ano”, disse Goldman.

A drag queen Tiffany Estrelato, 28, viajou de Tefé (AM) até São Paulo para participar da parada gay. Na hora de escolher a fantasia, optou por uma peruca loira curta e um maiô vermelho. “Estou vestida de Marta Suplício e não de Ana Maria Brega”, brincava na Avenida Paulista. Ela estava no comando de um grupo de ativistas que faziam corpo a corpo com os simpatizantes, distribuindo panfletos sobre as eleições e a causa gay.

A parada gay de São Paulo é considerada a maior do mundo. Não à toa, tão logo a multidão se aglomerou na Avenida Paulista, imagens do local pipocaram nos sites dos maiores jornais estrangeiros. “Não podemos deixar escapar essa oportunidade. Agora é a hora de cobrar dos nossos governantes o fim da intolerância e do preconceito sexual”, disse Alexandre Santos, presidente da Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a parada gay é o evento que mais atrai turistas para a capital paulista. Pelo menos 400 mil pessoas vêm de todo o Brasil e do exterior. A estimativa é de que o evento cor-de-rosa gere uma receita de até R$ 200 milhões.

Em protesto à violência(1) ocorrida na passeata do ano passado — um jovem morreu no hospital após ser espancado na passeata — os caminhões que desfilaram na parada trocaram as cores alegres do arco-íris pelo preto e branco. O carro alegórico que mais chamou a atenção foi o dos ursos e idosos. Apesar do frio que fazia na cidade, os senhores tiveram a coragem de desfilar vestindo apenas sunga e botas. Outro carro que fez sucesso foi o chamado “gol contra a homofobia”. Os simpatizantes aproveitaram o ano de Copa do Mundo para se vestir de verde e amarelo. A parada encerrou o desfile por volta das 20h.

1 - Protesto

A segurança no desfile deste ano foi praticamente dobrada. Pelo menos 3 mil homens da Polícia Militar, Guarda Civil e seguranças particulares trabalharam na parada. Metade deles falava mais de uma língua e ajudavam os turistas que não entendiam português. Os policiais bilíngues tinham estampado na parte de trás do uniforme a bandeira que indicava o segundo idioma que eles falavam.  



Estadão

0 comentários:

Postar um comentário