Igreja diz que Cuba vai libertar 52 presos; EUA mostram-se cautelosos a anúncio


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O governo cubano vai libertar 52 presos políticos, disse a Igreja Católica cubana nesta quarta-feira, em uma grande concessão à pressão internacional para melhorar as condições de direitos humanos na ilha.
Após o anúncio, o opositor cubano Guillermo Fariñas disse que deve encerrar a greve fome que faz há mais de 130 dias assim que for solto o primeiro grupo de presos políticos, teria informado ele por telefone a uma pessoa próxima.
Fariñas estaria disposto a começar a beber água assim que forem libertados os cinco primeiros presos do grupo de 52 anunciados, disse Ismeli Iglesias, médico dissidente que acompanha o caso.
Desmond Boylan/Reuters
Após quatro meses em greve de fome, dissidente cubano diz saber que morte está próxima e culpa os irmãos Castro
Após quatro meses em greve de fome, dissidente cubano diz saber que morte está próxima e culpa os irmãos Castro
O governo cubano não divulgou nenhum comunicado sobre a decisão de libertar os presos políticos.
O Departamento de Estado americano divulgou um comunicado cauteloso, dizendo estar trabalhando para confirmar o anúncio da Igreja, mas que "veria a libertação de prisioneiros como um desenvolvimento positivo".
Segundo a Igreja, cinco prisioneiro deveriam ser libertados ainda nesta quarta-feira, e poderão ir para a Espanha com suas famílias. Os demais 47 presos devem ser libertados dentro dos próximos três ou quatro meses, e também poderão deixar Cuba.
Os 52 homens parecem ser os que permanecem na prisão entre o chamado Grupo dos 75, presos na repressão da Primavera Negra de 2003, e condenados a penas de até 28 anos de cadeia.
O governo também informou sobre a transferência de seis presos nas próximas horas para prisões mais perto de suas casas.
ESPANHOL
O anúncio foi feito após recentes diálogos entre o presidente cubano, Raúl Castro, e o líder da Igreja Católica em Cuba, cardeal Jaime Ortega. A Igreja assumiu um papel mais determinante nos assuntos internos da ilha desde maio.
Também veio logo após um encontro entre o chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, com autoridades cubanas nesta terça-feira. Moratinos disse que foi à ilha para oferecer apoio aos esforços da Igreja.
'Sentimos uma enorme satisfação. Abre-se uma nova etapa em Cuba, com o desejo de solucionar definitivamente a questão dos presos', disse Moratinos, em sua primeira manifestação pública ao anúncio das libertações.
O comunicado da Igreja disse que Ortega já foi informado sobre as libertações nesta quarta-feira em encontros com Castro e o chanceler cubano, Bruno Rodriguez, com Moratinos também presente.
NEGOCIADOR
O assunto foi tema da reunião entre Raul Castro e Miguel Angel Moratinos, cuja visita teve como principal objetivo evitar a morte do dissidente cubano Guillermo Fariñas, em greve de fome há mais de quatro meses, e negociar a libertação imediata de outros presos políticos do regime comunista.
O chanceler espanhol foi recebido pelo seu colega cubano Bruno Rodríguez duas vezes durante a visita e apesar de a chancelaria espanhola não ter fornecido maiores detalhes sobre os temas discutidos, estima-se que a pressão de Moratinos tenha sido decisiva para a decisão sobre os presos políticos.
Esta é a terceira vez que Moratinos visita Cuba para acompanhar a situação dos presos políticos. O chanceler disse que vem "acompanhando" a crise de perto, monitorando o diálogo entre o presidente Raúl Castro e o cardeal Jaime Ortega.
Em 19 de maio as reuniões já resultaram na liberação de um preso político que estava doente e o traslado de 12 detidos para prisões em suas Províncias.
Moratinos se reuniu com Ortega na terça-feira e recebeu do cardeal um agradecimento pelo esforço no caso. O religioso reafirmou ainda a "esperança" sobre a situação dos prisioneiros políticos.
RECORDE
Essa deve ser a maior libertação realizada pelo governo cubano desde 1998, quando 101 presos políticos estavam entre 300 prisioneiros soltos, após uma visita do papa João Paulo 2º.
Com isso, o número de dissidentes atrás das grandes cairia para cerca de cem.
A decisão também poderia melhorar as relações da ilha comunista com os EUA e a Europa, que há muito tempo pressionam Havana para libertar presos políticos.
No começo desta semana, a Comissão Cubana de Direitos Humanos disse que Cuba mantém 167 presos políticos, incluindo dez em liberdade condicional. Esse é o menor número desde a revolução de 1959, que pôs Fidel Castro no poder.
REAÇÕES
A reação entre dissidentes cubanos foi mista. Elizardo Sanchez, da independente Comissão Cubana dos Direitos Humanos, disse que a libertação seria "algo bom", mas não um indicador de que os direitos humanos em Cuba vão melhorar.
Pareceu mais otimista Laura Pollan, líder do grupo dissidente Damas de Branca e cujo marido (Hector Maceda) está preso desde 2003. "Acho que estamos às portas de uma mudança, uma mudança significativa", disse ela, acreditando que a medida pode ser "o primeiro passo de uma verdadeira liberdade, de uma verdadeira democracia".

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