De Amantes

Carta número 1




Posso dizer que o nosso princípio nasceu de uma negação e um desencontro. O simples presente não aceito e a hora marcada não obedecida. Talvez a incerteza sobre o que o outro realmente queria, senão a mesma dúvida sob re o que sentia.
Não consigo, agora, depois de beijá-la; de conversar bem de perto; de querer tê-la mais, para me entregar mais ainda. Não consigo ter fé no conceito de que tudo acaba. Ontem, tudo que sou se transformou na paisagem de estarmos juntos naquele canteiro de praça. Ontem o mundo todo e minha vida inteira ficou do tamanho daqueles minutos. E se tive vontade de dominar o futuro, é por que sonhei com a eternidade desse momento ao teu lado.
Não sei o que faço, quando te vejo conversar com alguém que julgo poder tirá-la de mim. O ciúme é uma prova de amor para quem está doente de vaidade. O ciúme é o controle no domínio. É como tirar belas flores do jardim e colocá-las num vaso na cabeceira da cama. Ficamos obrigados a regá-las e pôda-las todos os dias. As flores morrem, a planta fica. O tempo passa o cuidado diminui. A planta morre, e não haverá mais flores nem espinhos, até o vaso e a cabeceira jogamos fora.
O que foi me diz? o que foi que aconteceu? Nada. Nada. É sempre nada para quem tenta não se revelar. Na verdade, somos o que amamos, só um pouco mais, que o que fazemos quando tememos. O contrário do meu desejo e do teu desejo é o que sei que não quero viver.
Que proveito se pode tirar da dor? Da dor de ser possível não existir amanhã? Essa navalha que torna cada segundo ao teu lado único. Que torna mais real cada lugar onde estamos. E ao conviver essa sensação dolorosa e viva, alguém sempre me pergunta, por que estou tão pensativo, qual motivo de tanta alegria ou por que parece tão serio e firme.





Andre Vitor é Comerciante

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