O que há de mais concreto no plano habitacional anunciado por Lula nesta quarta (25) é a propaganda. Afora o gogó, o programa é feito de sonhos.
Envoltos num cenário idílico, Lula e a presidenciável Dilma Rousseff trouxeram à luz o “Minha Casa, Minha Vida”.
Uma iniciativa que promete prover à bugrada 1 milhão de casas. Dizia-se que a mercadoria seria entregue em um ano.
Evoluiu-se para dois anos. No discurso inaugural, Lula disse que “não tem data”. O horizonte foi às calendas gregas.
O Bolsa Casa vem à luz com a cara de feto confuso. Numa das faces, tem aparência de rebento tardio. Por que não nasceu em 2003, primeiro ano da presidência de Lula?
Noutra face, tem aspecto prematuro. Informou-se que a coisa só vai deixar a maternidade em 13 de abril.
Só nesse dia as regras do programa, por ora esparsas, terão sido suficientemente esmiuçadas.
Coordenadora do novo programa, Dilma Rousseff, a ministra-candidata, empurrou música para dentro da orelha da platéia:
“Nós vamos compatibilizar a prestação [das casas] com a renda das famílias”. Chegara a dizer que o governo daria casa de graça.
Não se chegou a tanto. Mas informou-se que, para as famílias com renda de até três salários mínimos, a prestação será de R$ 50 mensais.
O governo prometeu levar a mão à bolsa da Viúva. Prometeu despejar sobre o novo plano R$ 34 bilhões.
Dinheiro para empréstimos e subsídios. O grosso vai para duas regiões com alta, muito alta, altíssima densidade de votos: Sudeste e Nordeste.
Os fogos estouram já. A conta chega mais tarde. Como a entrega das casas “não tem data”, um pedaço do borderô, que pode chegar a R$ 60 bilhões, vai ao colo do sucessor de Lula.
Dias atrás, Dilma reunira-se no Planalto com prefeitos e governadores. Dizia-se, então, que Estados e municípios teriam papel central no Bolsa Casa.
Selecionariam os terrenos, credenciariam os candidatos a moradia, providenciariam a redução de impostos.
Nesta quarta (25), o ministro Márcio Fortes (Cidades) injetou confusão no pudim. Disse que, agora, o “foco” do governo são as construtoras.
As empresas serão estimuladas a adquirir terrenos. Terão delegação oficial para selecionar e credenciar a clientela.
Devagarinho, a ação social vai sendo submetida à lógica comercial. Prefeitos e governadores, se quiserem, virão por “adesão”. Aspectos urbanísticos são ignorados.
Na cartilha que mandou distribuir, o governo reproduz um dado do IBGE: o déficit habitacional no Brasil é de 7,2 milhões de moradias.
Num cenário assim, tão adverso, fazer oposição ao plano da casa barata será algo tão temerário quanto vociferar contra o combate ao câncer.
Por obra e graça do marketing, Lula e Dilma foram à cerimônia de anúncio do plano habitacional envoltos num cenário de sonhos.
Uma foto gigantesca, de cores vivas, injetou no palco de Brasília uma família de brasileiros sorridentes.
Ao fundo, uma linda casa, de quatro águas. Incompatível com as dimensões das moradias de 35 m² e 42 m² que o governo promete entregar aos brasileiros pobres.
Para sorte de Lula, quando a propaganda é boa o brasileiro acredita até em casa sem paredes.
blog do josias

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