Com gastos de R$ 2,7 bi, Senado vai cortar R$ 50 mi


Responsável pela administração do Senado, o primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI) converteu-se em gestor de pepinos.

Eles caem sobre a mesa dele emquantidade incomum. Discursando da tribuna, na última quinta (19), Heráclito disse que se sente tentado a aderir à teoria do Jabuti.

“Às vezes, o melhor a fazer é esconder a cabeça na carapaça, receber todas as pancadas e esperar passar”.

No início da madrugada deste sábado (21), Heráclito falou ao blog. Por 55 minutos –de meia noite e cinco até uma da manhã.

Disse que não sabia que o Senado tinha 181 diretores. Afirmou que muitos são “diretores de fantasia”.

O título só serve “para o sujeito chegar em casa e dizer para a namorada ou para a mulher que é diretor do Senado”.

Contou que José Sarney (PMDB-AP) fixou uma meta de corte de despesas. De um orçamento anual de R$ 2,7 bilhões, pretende-se podar R$ 50 milhões.

Vai abaixo a entreista, dividida em duas partes:

- Já se fez uma estimativa de quanto será possível economizar dos R$ 2,7 bilhões previstos no Orçamento do Senado?

Desses R$ 2,7 bilhões, cerca de R$ 2,2 bilhões vai só para pessoal, ativos e inativos. Sobram R$ 600 milhões. Desse valor, o Sarney estipulou uma meta de economia de R$50 milhões. Mas creio que podemos chegar a mais que isso. Estamos assinando novos contratos de terceirização de mão-de-obra. Só num deles, na área de Comunicação, vamos economizar R$ 8 milhões. Tem mais dois contratos com economias de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões. Por isso que acho que chegamos a mais de R$ 50 milhões.

- Por que disse que, com tantas denúncias, seria melhor fechar o Congresso?

Estava tomando cafezinho e batendo papo com jornalistas. De repente, fui bombardeado de perguntas. Horas-estras, despesas de saúde, telefones e outras coisas. Era uma conversa informal. Eu disse: do jeito que as coisas vão é melhor fechar o Congresso. Turbinaram essa frase.

- Foi um desabafo?

O Senado, pra mim, é como o pulmão que me permite respirar. O Parlamento é a minha vida. É claro que eu jamais pregaria o fechamento do Congresso. Deram uma conotação indevida.

- É verdade que jornalistas recebem passagens aéreas de senadores?

Dentro dessa mesma conversa, me perguntaram sobre o caso das passagens da Roseana [Sarney, acusada de usar passagens de sua cota no Senado para trazer a Brasília parentes e amigos maranhense]. Eu disse: Se for mexer nisso não sobra ninguém, nem jornalistas.

- Quem são os jornalistas que recebem passagens de senadores?

Há coberturas periféricas que são feitas no Congresso em que as pessoas pedem mesmo. Isso existe. Sempre existiu. E não vai deixar de existir.

- São jornalistas de grandes jornais?

Não, não, não é isso. Jornalistas de jornais grandes –como o Estadão, a Folha e outros— não enveredam por esse campo. Mas que tem, tem.

- Não acha que deveria ser baixada uma norma disciplinadora?

Essa norma já existe. Qualquer Parlamento do mundo tem isso. A cota de passagens é para o exercício da atividade do parlamentar. Muitas vezes você quer trazer um técnico, um economista, um jornalista de um Estado pequeno, para conhecer os mecanismos de Brasília. Para isso também se pode usar as passagens.

- Não acha que a passagem deveria ser usada só pelo congressista?

Não. Pela resolução da mesa, não há essa exclusividade.

- A resolução não deveria ser modificada?

Não vejo assim. Nos últimos anos, o que se tem feito é apenas tentar cercear a liberdade da atuação do parlamentar. É óbvio que não defendo exageros. Mas o uso, como historicamente tem sido feito, não vejo razões para mudar.

- O sr. disse, em discurso, que algumas das 181 diretorias do Senado são ‘de fantasia’. O que é uma diretoria de fantasia?

Misturaram diretorias com funções gratificadas.

- O detentor de uma função gratificada tem o título de diretor?

Em alguns casos sim. Isso é um exagero. Muitas vezes é para ganhar uma bobagem a mais. É mais para o sujeito chegar em casa e dizer para a namorada ou para a mulher que é diretor do Senado. Essas é que nós estamos extinguindo. Já eliminamos 50, num processo que está só no começo.

- Então há dois tipos de diretoria no Senado?

Temos as diretorias que são executivas, voltadas para as atividades fins, e temos as diretorias que têm diretores por apelido.

- Como se chegou a isso?

Não sei como a imprensa não notou isso. Os membos de Mesas diretoras anteriores à atual criticam. Mas como deixaram passar?

- O fenômeno não começou nas duas gestões anteriores de José Sarney?

Mandei fazer um levantamento. Ao que parece o grande choque ocorreu em 2001. O presidente não era o Sarney. Começou-se a baixar resoluções que permitiram esse inchaço. [Em 2001, o Senado era presidido por Jader Barbalho, do PMDB. Sob denúncias, renunciou para fugir à cassação. Substituiu-o, em mandato tampão, o maranhense Edison Lobão –à época estava filiado ao ex-PFL. Hoje, integra o ministério de Lula na cota do PMDB de Sarney. Lobão iniciou o processo que levou à proliferação de diretores. Foi imitado pelos sucessores, inclusive Sarney e Renan Calheiros. Em oito anos, as diretorias saltaram de 32 para 181].


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