Ex-presidiários são alvos fáceis para grupos de extermínio


A violência contra ex-presidiários não para na Grande João Pessoa. Réus que cumpriram penas impostas pela Justiça pagam com a vida quando ganham a tão sonhada liberdade. Foram pelo menos 20 execuções de janeiro até agora. No dia cinco de janeiro o ex-presidiário Rodrigo Santos Araújo, 29 anos, foi morto a tiros de revólver nas proximidades de um condomínio fechado no Altiplano Cabo Branco.Ao lado do corpo foi encontrado um alvará de soltura datado de 14 de julho do ano passado. Ele cumpriu pena no Presídio do Roger por furto.

No dia 14 de janeiro a vítima foi o apenado Ismael Mareco de Sousa Neto, 31 anos, o "Netinho", executado em frente à Penitenciária de Segurança Média de Mangabeira. De acordo com a polícia, como sempre fazia todos os dias, por volta das 6h "Netinho" deixou o presídio e quando se encontrava numa parada de ônibus, dois homens chegaram em um Gol branco.Um dos desconhecidos desceu do carro e começou atirar no apenado. Testemunhas contaram que foram efetuados mais de 10 tiros.

No dia 18 de janeiro em Santa Rita o ex-presidiário Edierson Batista do Nascimento, 25 anos, foi morto a tiros de revólver na rua Nossa Senhora do Rosário, no bairro Santa Cruz. A vitima cumpriu pena por homicídios.Há quatro meses tinha deixado o presídio e vinha recebendo ameaça de morte.

Já do dia 10 de fevereiro, o ex-presidiário Evandro Alves da Silva, de 46 anos, foi morto a tiros na rua Sapé, no conjunto Tibiri II, Santa Rita. Os autores do crime foi praticado por dois homens em uma moto.

No dia 12, no bairro da Ilha do Bispo, ex-presidiário Gilvandro Batista de Freitas Junior, de 35 anos, foi executado a tiros de revólver próximo à sua residência .Outro crime contra ex-apenado aconteceu no dia 25. A vítima foi Luciano Nascimento dos Santos, de 21 anos, morto a tiros na rua Rita Vieira, no conjunto Mário Andreazza.
No local, a polícia tomou conhecimento que o ex-detento saiu de casa e quando caminhava pela rua foi abordado por dois homens de moto. Os acusados passaram a atirar em Luciano.

No mês de março o ex-presidiário Alisson Ramos Alexandre, 21 anos, foi morto com vários tiros de pistola no Alto das Populares, em Santa Rita. Os autores do crime foram dois homens em uma moto.

Já o ex-presidiário José Ailrton Lima da Silva, de 21 anos, foi morto com um tiro da cabeça no loteamento Nossa Senhora da Conceição, no Conde. O ex-presidiário cumpriu pena de dois anos por assassinato em Alhandra.

Na comunidade Bela Vista no bairro do Cristo Redentor, o ex-presidiário Adriano Nascimento Passos, de 24 anos, foi morto a tiros. Familiares do ex-detento contaram à polícia ele era viciado em drogas e já tinha cumprido pena por assalto.

Grupo de extermínio
No início do ano, o deputado federal Luiz Couto (PT) afirmou em entrevista ao O NORTE que os ex-presidiários estariam sendo mortos por um grupo de extermínio. O deputado, que vem investigando a ação desses grupos no Nordeste há mais de três anos, declarou que alguns assassinatos vêm sendo realizados pela própria polícia, que, segundo ele, "é paga pelo tráfico de drogas".

Para Luiz Couto, que participou da CPI do Extermínio no Nordeste, concluída em novembro de 2005, o resultado dos trabalhos não deixa dúvidas sobre a participação de policiais com o narcotráfico. Ele disse que o relatório foi enviado para diversos órgãos e que, mesmo assim, ainda faltam ações para coibir o relacionamento entre a polícia e os traficantes. O deputado também já denunciou que policiais paraibanos supostos integrantes do grupo estariam usando o distintivo, fardamento, armas e informações exclusivas da Polícia para realizar crimes e proteger ações criminosas.

Número de mortes chegou a 50 apenas no ano passado
No ano passado o número de mortes de ex-presidiários chegou a 50 na Grande João Pessoa. Para a delegada de Homicídios, Daniela Vicuuna de Oliveira Trindade, dívida relacionada em sua maioria pelo tráfico de drogas dentro e fora da prisão, é o principal motivo dos assassinatos cujas vítimas são ex-presidiários.

De acordo com a delegada, quando estão no presídio essas pessoas fazem uso de drogas e com isso contraem dívidas e quando saem sem pagar a conta em poucos dias são assassinados em muitas situações a mando do vendedor de drogas que se encontra dentro da prisão. “Há casos em que muitas vezes, eles são mortos dentro do próprio presídio”, contou Daniela Vicuuna.

Ela explica que outros casos, os assassinatos podem estar relacionados com o crime que o ex-presidiário comentou fora do presídio. Isso acontece, segundo a delegada, quando se trata de homicídio. “ Mesmo o acusado estando preso, a sede e a sensação de vingança permanecem nos familiares da vítima e quando o responsável pelo crime sai da cadeia é assassinado”, comentou a delegada.

Daniela Vicuuna explica que os crimes geralmente estão relacionados com o que o apenado fez fora ou dentro do presídio e não simplesmente pelo fato dele ser ex-presidiário.

Origem
No Brasil, os grupos de extermínio tiveram origem no eixo Rio/São Paulo na década de 1960. O surgimento desses grupos é considerado um fenômeno originário da ideologia de segurança nacional existente nesse período. A época da ditadura militar readquiriu peso a parte política na Polícia Civil e a violência criminal, consentida das torturas e dos assassinatos políticos, acabou derivando para a formação de esquadrões da morte na polícia civil, no final da década de 1960 e início da década seguinte.

SAIBA MAIS
Com relação às investigações sobre esses homicídios, a delegada explica que a exemplo do que acontece com assassinatos de pessoas que não são ex-presidiárias, a dificuldade de encontrar testemunhas para falar sobre o caso é muito grande e quando se trata de pessoas que cometeram crime a situação se complica ainda mais.

De acordo com a delegada, no caso de ex-presidiários, a própria família da vítima se nega a prestar quaisquer informações com medo de sofrer represálias e até ter outros parentes assassinados pelos acusados. Somando-se a isso tem ainda a questão da própria sociedade que se nega se a colaborar com a polícia por uma questão de puro preconceito, pelo fato das vítimas serem ex-presidiários, consideradas como bandidos e por isso que devem estar mortas.

fonte : a fonte e noticia

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