Obama acena aproximação com Irã, que rebate com pedido por mudanças concretas


da Folha Online

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu mais um passo nesta sexta-feira para reverter o legado do seu antecessor, George W. Bush. Aproveitando a celebração do Nouruz (Ano-Novo) no Irã, Obama enviou uma mensagem de conciliação aos iranianos, com a promessa de um "novo começo", baseado no respeito mútuo, para as estremecidas relações entre os dois países. Teerã agradeceu a mensagem, mas pediu "mudanças concretas" antes de avançar em uma aproximação que encerraria décadas de animosidade.

Leia íntegra da mensagem
Veja o vídeo da mensagem no YouTube

Os EUA cortaram as relações diplomáticas com o Irã durante uma crise entre 1979 e 1981 na qual um grupo de estudantes militares iranianos manteve 52 diplomatas americanos reféns na Embaixada dos EUA no Irã, por 444 dias. Mais recentemente, os dois países vivem sob a tensão do programa nuclear iraniano --que Washington diz ter como objetivo a fabricação de armas e que Teerã defende como meio de produção de energia

A mensagem de Obama ao Irã traz o tom de seu primeiro discurso como presidente americano, quando afirmou que seu governo procurava "um novo modo de avançar" com o mundo muçulmano e que estava disposto a estender a mão para os países que abrissem seus punhos primeiro --um gesto que, pela resposta cautelosa, Teerã ainda esta receoso em fazer.

No vídeo, com legendas em persa, Obama traz ainda um tom criticamente diferente de seu antecessor republicano, que incluiu Irã, assim como Coreia do Norte e Iraque, no "eixo do mal" dos países que promovem o terrorismo.

Obama faz um chamado para que se encontre uma solução para as diferenças entre os dois países e para o início de um relacionamento "honesto". O Nouruz é uma das festividades mais populares do Irã, anterior ao surgimento do Islã.

"No meio destas celebrações repousa a promessa de um novo dia, a promessa de oportunidades para nossos filhos, segurança para nossas famílias, progresso para nossas comunidades e paz entre nossas nações. Essas são esperanças compartilhadas, esses são sonhos comuns", afirmou o presidente.

No vídeo, enviado para emissoras de TV iranianas selecionadas pela Casa Branca, Obama ressalta mais de uma vez que, para que o processo de paz avance, o Irã deve renunciar às armas e às ameaças. "Esse processo não será adiantado com ameaças. Buscamos na mudança um relacionamento que seja honesto e baseado no respeito mútuo", afirma.

"Os Estados Unidos querem que a República Islâmica do Irã tome seu merecido lugar na comunidade das nações, mas esse lugar não pode ser alcançado por meio do terror das armas, senão por meio de ações pacíficas que demonstrem a verdadeira grandeza do povo iraniano e sua civilização", continuou Obama, insistindo que o Irã também deve fazer a sua parte pela reconciliação.

Mão estendida

Já durante a campanha eleitoral, Obama havia expressado sua vontade de dialogar diretamente com países hostis aos EUA, entre eles o Irã, e foi duramente criticado por isso. Ele voltou atrás e disse que o diálogo não seria sem restrições e nem ao menos entre os presidentes e sim entre funcionários de alto escalão.

Agora, exatamente dois meses após assumir a Casa Branca, ele envia o mais expressivo sinal diplomático da abertura de um diálogo. O discurso, contudo, não revê a extensão pelo seu governo, na semana passada, das sanções aplicadas contra o Irã em 1995, depois que os EUA acusaram Teerã de envolvimento com terroristas e tentativa de fabricação de armas de destruição em massa --e que Teerã classificou como "ideia infantil".

A Casa Branca afirmou que o vídeo representa uma maneira do presidente americano falar diretamente ao povo iraniano sobre o desejo dos EUA de colaborar com seu país. No entanto, a Casa Branca frisou que os EUA mantêm suas diferenças com o Irã, em particular no que diz respeito às ameaças de Teerã contra Israel e ao programa nuclear iraniano.

Pé atrás

O Irã recebeu favoravelmente a mensagem de Obama, mas "[reiterou]";http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u501556.shtml o pedido por ações concretas de Washington para reparar os erros do passado, afirmou Ali Akbar Javanfekr, conselheiro de imprensa do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

"Recebemos favoravelmente a vontade do presidente americano de deixar de lado as diferenças do passado, mas o meio para alcançar isto não é pedir ao Irã que esqueça unilateralmente a atitude agressiva dos Estados Unidos no passado", declarou.

Javanfekr afirmou ainda que, para os EUA efetivamente estenderem a "mão amiga" que desejam, é preciso mudar fundamentalmente o comportamento. "Até agora o que recebemos foram punhos pouco amigáveis", completou.

"Os Estados Unidos devem reconhecer seus erros passados e repará-los para deixar de lado as diferenças entre os dois países", acrescentou.

O conselheiro de Ahmadinejad falou ainda das sanções americanas, que classificou como "erradas".

Listou ainda outro grande obstáculo para a aproximação desejada por Obama: "Apoiar Israel não é um gesto amigável e o Ano Novo é uma boa hora de mudar esta política", disse Javanfekr. Israel é o principal aliado dos EUA no Oriente Médio e cortar relações com o país seria um grande retrocesso para a política de aproximação do democrata.


Fonte : folha on line


0 comentários:

Postar um comentário