A briga dos neurônios com a consciência

Um pequeno texto cheio de imagens da Mente e Cérebro me fez lembrar de um debate já bem antigo. Reproduzo algumas imagens abaixo:

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A chamada do artigo diz: "Ao “enganar” neurônios especializados em detectar estímulos que se deslocam, certas imagens nos fazem perceber movimento onde ele não existe".


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Isso evoca todo um debate que ainda permanece aberto. A começar pelo nascimento da psicologia da Gestalt, da fenomenologia do início do século XX, e enfim a respeito da evolução das neurociências.

Um gestaltista e um fenomenólogo diriam: espera aí, como pode um neurônio se enganar? Se é uma célula nervosa, o que permite um neurônio acertar ou errar? Nada, uma célula não acerta ou erra, ela apenas é ativada. Isso quer dizer que diante de uma imagem dessas um neurônio nunca se engana; ele é ativado junto a outros neurônios.

Mas e então, a que se deve a aparência? O gestaltista dirá: trata-se de uma percepção que se antecipa sobre os elementos. E bem grosseiramente, poderia-se dizer que um fenomenólogo colocaria o papel da consciência (como faz Sartre ao criticar a Gestalt no Esboço de uma Teoria das Emoções) ainda privilegiado diante da percepção. Ora, um neurônio, ou um conjunto deles, não fazem nada sozinhos. Esse tipo de pensamento ainda pressuporia que basta que se somem os neurônios para que o erro esteja inteirinho ali, desde o "elemento".

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Aí é que o bom neurocientista talvez diga: é verdade, pouco importam os neurônios. Ou melhor, eles importam na medida em que formam (de algum modo que ainda se debate) um campo virtual consciente, e é esse campo virtual que "se engana" ou não. Ainda, os neurônios importam na medida em que a extirpação de certos locais do cérebro fazem com que o engano seja permanente.

Interessante notar que, de todo modo, permanece o papel da consciência. Para o bom neurocientista, como para os outros, é apenas no nível da consciência que se pode falar de "engano". Embora há ainda quem diga o contrário:

Não se compreende totalmente como imagens estáticas criam impressões irresistíveis de movimento de uma forma quase mágica. Sabemos, no entanto, que elas ativam detectores de movimento no cérebro. Essa idéia foi testada fisiologicamente por meio da gravação da atividade de neurônios de duas áreas do cérebro de macacos: o córtex visual primário (V1), que recebe sinais da retina (depois de terem sido retransmitidos pelo tálamo), e a área temporal média (MT), na lateral do cérebro, que é especializada na visualização de movimento. (Danos à MT causam cegueira de movimento; objetos que se movem aparecem como uma sucessão de objetos estáticos, como se estivessem iluminados por uma luz estroboscópica.) A questão é: “As imagens estáticas como as serpentes girando ‘enganam’ os neurônios detectores de movimento?” A resposta inicial parece ser sim, como foi mostrado numa série de experimentos publicados em 2005 pela neurocientista Bevil R. Conway, da Faculdade de Medicina da Universidade Harvard.

1 comentários:

Anônimo disse...

muito legal! :)
;D ;B :P

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