
Nery (PSOL) anuncia recurso ao STF contra arquivamento
José Sarney e seu grupo adotaram no Senado um comportamento da lavadeira.
Acomodaram o ferro do arquivo sobre o amarrotado das denúncias. E esperam que o tempo passe.
A já platéia sabe que, num Senado sem futuro, o tempo não passa. Já passou. Mas um pequeno grupo de senadores ainda revolve o pretérito.
Eduardo Suplicy (PT-SP) é um deles. Nesta terça (25), o petista levou à tribuna, de novo, o lixo que escapa pelas bordas do tapete.
Empilhou as denúncias que enodoam a biografia de Sarney e que o Conselho de (a)Ética esquivou-se de apurar.
Empunhando um pedaço de cartolina encarnada, Suplicy autoproclamou-se juiz e mostrou o cartão vermelho a um Sarney ausente.
Conclamou o presidente do Senado a renunciar. Gesto vão. O jogo está jogado. E nem o time de Suplicy endossa-lhe o gesto.
Tampouco Lula, o capitão da equipe do senador, lhe dá ouvidos. Bem treinados pelo presidente, os jogadores do PT chutaram as denúncias para a gaveta.
Na presidência da sessão, Mão Santa (PMDB-PI), sempre tão generoso nas prorrogações, fez o que pôde para limitar o tempo de Suplicy: "Sou o dono do apito", ameaçou, a alturas tantas.
Pedro Simon (PMDB-RS) interveio com ares de zagueiro: “Não queira fazer agora o que nunca fez”.
Suplicy continuou passenado pela grande área. Deu mais algumas cabeçadas. José Nery (PSOL-PA) anunciou o próximo lance.
Disse que, nesta quarta (26), um grupo de senadores anti-Sarney vai protocolar no STF um mandado de segurança.
Pedirão ao Supremo que o arquivamaneto coletivo das ações seja submetido a um tira-teima no plenário do Senado.
Sobreveio a intervenção de Almeida Lima (PMDB-SE), ponta-de-lança de Renan Calheiros (PMDB-AL).
O senador deu um chapéu no óbvio. Disse que não há crise. Defendeu Sarney contra as denúncias salpicadas por Suplicy na zona do agrião.
De resto, Almeida Lima cobrou “respeito”. Repeito a Sarney. Respeito à decisão do Conselho de (a)Ética. Respeito ao Senado. Só não mencionou o desrespeito à galera.
Almeida Lima falou no plural: “Os senhores estão abusando, agredindo, enxovalhando a dignidade do Senado”.
Cristovam Buarque, outro senador que integra o pequeno grupo que ainda exibe alguma fome de bola, trocou passes com Suplicy.
Elogiou o gesto do colega. Enxergou “genialidade” na escolha do cartão vermelho como símbolo da crise que Almeida Lima diz inexistir.
Heráclito Fortes (DEM-PI), primeiro-secretário da Mesa dirigida por Sarney, foi à canela de Suplicy. Disse que o discurso do petistas soava insincero.
Suplicy perdeu as estribeiras. Esgoelou-se. Socou o púlpito. Exaltado, rogou a Heráclito que fosse "justo" com ele. Desatendido, exibiu o cartão vermelho também para o colega 'demo'.
A coisa descambou para pelada de várzea. Heráclito recusou-se a deixar o campo. Viu no cartão de Suplicy "um troféu" de fim de campeonato.
Heráclito tentou uma tabela com o garçom do Senado: "Zezinho, sirva um suco de maracujá para o senador Suplicy". Só havia água.
O 'demo' aplicou uma sequência de carrinhos verbais no petista. Lembrou que Suplicy não assinara o recurso da oposição contra a gaveta.
Disse que, no conselho de (a)Ética, o PT acomodara Suplicy "no banco de reservas", como terceiro suplente, sem direito a voto.
E instou o contendor a mostrar o cartão vermelho para Lula, o verdadeiro "responsável pela crise". Acusou: "O presidente da República invadiu o campo do Senado". Mais: "Deu cartão amarelo ao [Aloizio] Mercadante".
A arquibancada, impassível, já não se anima a trocer. Lamuria-se apenas. Acha que, na condição de público pagante merecia mais classe, um tantinho a mais de categoria.
Afora o rififi do plenário, a "normalidade" de Sarney foi temperada a pequenas anormalidades.
PSDB e DEM decidiram boicotar reunião de líderes convocada pela presidência. E renunciaram ao Conselho de (a)Ética. Vencidos, descem ao vestiário com cara de amarelões.
Avisado previamente pelo próprio Suplicy, Sarney refugiou-se em seu gabinete. Receoso de que uma bola perdida o alcançasse, preferiu assistir pela TV Senado ao terceiro tempo da pelada.
blog do josias
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