"Como colocam policiais recém formados para enfrentar bandidos experientes de fora do estado?", indagou ontem Albenice Carneiro, tia do soldado Joelton Carneiro, ferido em tiroteio durante o sequestro no Cabo Branco. No dia em que a família do policial militar se reuniria para o almoço da "Sexta-feira Santa", Albelice revela que falta paz e sobra revolta entre os pais e o irmão de Joelton. Embora estejam concentrados em acompanhar a recuperação do policial, os familiares admitem buscar na Justiça a reparação do que consideram "erro de estratégia da polícia".
"Eles são recrutas, são meninos novos que querem mostrar serviço de qualquer maneira. Foi um erro ter mandado eles, ter dado o comando para eles subirem sem pedir reforço", acusa Albenice. Para ela, tanto a inexperiência dos soldados quanto o pequeno quantitativo designado para operação foram determinantes para o desfecho trágico que deixou o sobrinho paraplégico.
"Qualquer pessoa percebe que policiais mais experientes deveriam negociar com os sequestradores. Eles ainda são crianças na PM. E ainda, a operação contou apenas com quatro policiais. Era para ter sido mandado reforço logo após o pedido de atendimento de emergência", defende Albenice.
O tenente do Grupo de Ações táticas Especiais (Gate) da PM, Rafael Araújo que intermediou as negociações após a ação do grupo de soldados, reconheceu: "Esta ocorrência é típica do Gate". Ele revelou ainda que os agentes do grupamento especial foram chamados após a ocorrência de disparo contra o policial: "Quando fomos acionados, o soldado já havia sido ferido no pescoço", detalha. "O momento mais difícil foi o da rendição e da entrega das armas", completa.
Para um dos soldados que trabalhou na operação o momento crítico foi quando a arma de um deles falhou, oferecendo maior risco para a equipe da PM. "Tentamos acionar por diversas vezes sem resposta, foi quando peguei a arma do soldado Carneiro que já não podia atirar. Puxei ele para o elevador e conseguimos sair do prédio", relata Francisco Fagner Mesquita, 27.
Araújo comenta que a dupla que manteve a família refém por sete horas em um apartamento de luxo na orla estava foragida da polícia fluminense. "Eles possuem inúmeras passagens pela polícia, a ficha dos dois é bastante extensa, estavam foragidos, e há informações de que eles estejam ligados a uma facção criminosa. Uma coisa é certa: Não eram amadores", pondera.
A polícia considera que um terceiro homem estaria de carro esperando Francis Figueiredo de Lira, 34, e Leandro Carvalho Leite, 35, saírem, mas fugiu quando percebeu que a ação criminosa tinha sido mal sucedida. Os três cariocas que chegaram a estudar os hábitos da família do empresário do ramo da contrução civil, Hebert Maia, durante três meses em João Pessoa, foram encaminhados para o presídio do Roger.
Albenice comenta que o sobrinho de 23 anos concluiu em dezembro o curso de formação da PM. Ele sonhava desde de criança em ser policial e combater o crime. Ele chegou a abandonar a faculdade de Física para se dedicar integralmente à função. "Joelton sempre foi guerreiro em tudo, na escola, na universidade, sempre sonhou em ser policial. "A gente tá pedindo a Deus que ele melhore, os pais estão em estado de choque e sendo medicados, a família está totalmente abalada", arrematou.
De acordo com o comandante da 4ª Companhia da PM, capitão Lábis, o Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar, feito por Joelton Carneiro, habilita os policias para qualquer operação policial, mesmo as de alto risco. É o que também alega o secretário de Estado da Segurança, Gustavo Gominho.
Joelton Carneiro continua internado no Hospital de Emergência e Trauma sem expectativa de alta médica. Se confirmado o atual estado de paraplegia, o militar será reformado e ficará afastado das atividades de rotina policial, recebendo uma remuneração mensal de R$ 1.150, sem direito a tratamento especializado ou acompanhamento psicológico, além dos serviços oferecidos no Instituto de Previdência do Estado da Paraíba (Ipep).
O Norte
0 comentários:
Postar um comentário