Tudo o que você sabe sobre Robin Hood está errado, diz Russell Crowe

O som ensurdecedor das flechas e espadas do "Robin Hood" de Ridley Scott, exibido em sessão especial para a imprensa pela manhã, inaugurou nesta quarta-feira (12) a 63ª edição do Festival de Cannes. O filme - que foi exibido aqui fora de competição e chega aos cinemas brasileiros já nesta sexta - reconta a origem do lendário personagem da literatura inglesa conhecido tanto por sua habilidade com o arco quanto pela liderança entre os oprimidos.

Mas a máxima que tornou Hood conhecido do mundo todo desde os primeiros relatos no século XIV - a de que ele "rouba dos ricos para dar aos pobres" - fica em segundo plano na versão de Scott em favor do aspecto histórico e político do personagem.

"Tantos 'Robin Hood' foram feitos, mas, pessoalmente, não sinto que nenhum deles tenha me deixado satisfeito com relação a seu elemento humano. Eu acredito nas motivações por trás dos 'Robin Hood' que já foram feitos? A minha resposta é não. E eu queria encontrar as motivações reais desse personagem", disse Russel Crowe em entrevista coletiva logo após a sessão.

O filme se passa no final do século XII, quando os soldados do rei Ricardo Coração de Leão estão voltando de uma jornada fracassada nas Cruzadas e encontram uma Inglaterra comandada por um rei sem carisma e opressor e prestes a ser invadida pela França.

Hood (Crowe) é Robin de Lockstride, um arqueiro espertalhão que vê a oportunidade de retornar à Inglaterra em glória, disfarçado de cavaleiro e carregando a coroa do monarca derrotado. Isso mesmo, na versão de Scott, que jura maior fidelidade à história, Ricardo Coração de Leão é retratado como um desvairado que parte para a batalha de peito aberto e não retorna vivo ao trono como outros filmes fizeram entender.

"Adotamos essa perspectiva bem arrogante que acho necessária quando você se propõe a recontar uma história que já foi contada há mil anos: o que quer que você pense que sabe sobre Robin Hood é, a princípio, um engano", disse Crowe em Cannes, acrescentando que não vê nenhuma saia-justa no fato de um filme que coloca os franceses como inimigos estreie justamente em um festival na França.

"Nós matamos Ricardo logo no começo do filme, e mostramos que esse grande herói inglês foi morto por uma flecha disparada por um cozinheiro francês! Essa é uma parte importante da história - e acho que por isso estamos abrindo um festival aqui", brincou.

Mais do que a disputa de poder entre França e Inglaterra - reproduzida em uma cena de batalha sangrenta ao final do filme -, o "Robin Hood" de Scott e Crowe procura mostrar as brigas internas no reino e o movimento que levou o Rei John a assinar a Magna Carta e dar início a uma nova etapa na história britânica. E, mais importante, como e de onde nasceria um herói do povo nessas condições.

"[Robin Hood] é esse personagem que marchou do Sul da França à Palestina, encontrou todas as civilizações pela frente, presenciou a Igreja operando, viu a democracia na Grécia, e volta ao seu país para encontrá-lo empobrecido nas mãos de um rei egoísta", apontou o ator. "No centro de Robin Hood está esse homem que se incomodava com o sofrimento desnecessário das pessoas comuns."

"É irônico que isso esteja acontecendo agora, na época do lançamento do filme. Mas essa é só mais uma prova do talento do diretor em misturar esses diferentes elementos [política, ação e romance] no filme", diz a atriz australiana, que interpreta provavelmente a versão mais avalentada de Marion de Loxley entre todas as adaptações. "Na verdade, eu sempre quis ser o Robin Hood. Nunca me interessei pela versão da personagem como mocinha oprimida."

Sarcástico em diversos momentos da entrevista, Crowe aproveitou a deixa para imaginar seu próprio Robin Hood dos tempos modernos. "Se Robin Hood existisse hoje ele iria se voltar para a política? Ou estaria olhando para a economia de Wall Street e o dinheiro que rola lá? Ou estaria lutando contra o que vocês fazem?”, disse, voltando-se para os jornalistas com um sorriso no rosto. “A minha teoria é que, se Robin Hood se voltasse contra alguém hoje, seria contra os grandes grupos de mídia que concentram a informação e criam monopólios... Bon jour!", espetou.

Por fim, Crowe disse que, "honestamente", não há planos para uma continuação. "Não temos outros dois roteiros com Ridley na cama de hospital agora [o diretor não foi a Cannes pois se recupera de uma cirurgia no joelho recente]. Mas a nossa primeira versão do roteiro tinha sete horas e meia, então seria ótimo ter a chance de saber o que vem depois... Ainda não vimos ainda a cena de Robin e Marion fazendo amor à meia-luz na floresta!", provoca.

G1



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