Francesa acusada de matar oito filhos se diz aliviada por confessar crimes

Daniela Fernandes
De Paris para a BBC Brasil



Dominique Cottrez, em foto que teria sido retirada do Facebook (foto: AFP)
Dominique Cottrez, teria cometido primeiro crime em 1989 (foto: AFP)
A francesa que confessou ter matado oito filhos recém-nascidos está se sentido "aliviada" após ter revelado os fatos à Justiça e ter sido indiciada pelos crimes, afirmou seu advogado, Frank Berton, nesta sexta-feira.
Dominique Cottrez, que é auxiliar de enfermagem, está presa e pode ser condenada à prisão perpétua por ter sufocado oito recém-nascidos.
"Ela não precisa mais carregar isso na consciência, e é também uma espécie de alívio", declarou Berton.
Os corpos dos bebês foram encontrados nos últimos dias em Villers-au-Tertre, pequeno vilarejo de apenas 700 habitantes no norte da França.
Dominique Cottrez, 45 anos, "é uma mulher bastante sofrida, cansada e abatida" que se encontra em "um estado de confusão mental", disse o advogado.
Mãe de duas filhas na faixa dos 20 anos, ela declarou nos interrogatórios que "não desejava ter mais filhos e não queria consultar um médico para utilizar meios contraceptivos", afirmou na quinta-feira Éric Vaillant, procurador de Doaui, cidade próxima ao local dos crimes.
O advogado da francesa também ressaltou que ela não se esquivou das perguntas durante os interrogatórios e indicou rapidamente, após a descoberta dos dois primeiros corpos, em seu domícilio anterior, que outros seis estavam escondidos na garagem de sua casa atual.
Sacos plásticos
As mortes foram descobertas quando os novos proprietários de uma casa em Villers-au-Tertre faziam obras no jardim e encontraram, no último sábado, dois esqueletos embalados em sacos plásticos enterrados no local.
A polícia foi alertada e localizou os antigos moradores da casa, que pertencia à família da mãe dos bebês.
Os outros seis corpos foram descobertos na garagem da nova residência de Dominique e seu marido, Pierre-Marie Cottrez, situada nas proximidades. Os esqueletos estavam escondidos sob vasos de plantas e materiais de jardinagem.
O pai dos oito bebês, carpinteiro e vereador municipal, declarou não estar a par das diferentes gestações nem das mortes. Ele não foi indiciado e permanece livre.
Excesso de peso
O excesso de peso da mãe pode ter contribuído para esconder as gestações, na avaliação do procurador responsável pelo caso.
O advogado também afirma que perícias serão realizadas para determinar o estado psicológico da mãe dos oito bebês.
Segundo a psicanalista Sophie Marinopoulos, autora do livro A Vida Ordinária de uma Mãe Assassina, essas mulheres, na maioria dos casos de infantícidios, "são descritas como tímidas ou reservadas pelas pessoas à sua volta, mas isso esconde uma grande pobreza afetiva e a incapacidade de expressar seus sentimentos".
De acordo com a especialista, as mães que cometem infanticídio confessam o crime imediatamente "para se sentir liberadas", mas elas "são incapazes de explicar o ato". Ela afirma também que essas mães "sempre guardam os corpos perto delas".
Marinopoulos, que estudou vários casos de infanticídio, diz que essas mães optam por ignorar a gestação e que "o único objetivo delas é extrair a criança e sobreviver".
"Elas limpam tudo e somem com o corpo de maneira mecânica. Aliviadas, as mães infanticidas retornam às suas vidas comuns sentindo o mesmo sofrimento psicológico", afirma a psicanalista.
Estatísticas
Na França, não existem estatísticas oficiais da Justiça sobre infanticídios. Segundo o Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm, na sigla em francês), haveria entre dez e 20 casos por ano no país.
Mas os números seriam subestimados, segundo um relatório sobre mortes suspeitas de bebês com menos de um ano de idade, divulgado em 2009 pelo Inserm.
Para a pesquisadora Anne Tursz, que realizou o estudo e vasculhou arquivos de vários tribunais franceses, os números seriam "entre três e 15 vezes inferiores à realidade".
Segundo ela, "um terço das mortes acidentais e um quarto das mortes por causas desconhecidas, de acordo com a classificação do Inserm, são, na avaliação dos tribunais, mortes suspeitas, em que poderia haver a intenção de cometer o crime".
Além disso, vários casos de morte súbita do recém-nascido, que pode parar de respirar dormindo, não sofrem autópsias para determinar a causa exata do falecimento, diz a pesquisadora.

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