Movimento estudantil ganha fôlego com temporada de protestos no mundo inteiro

DIOGO BERCITO
IURI DE CASTRO TÔRRES
DE SÃO PAULO

Dezembro de 2010. Um jovem de 26 anos coloca fogo no próprio corpo, na Tunísia, dando início a protestos. Em janeiro, cai o ditador Ben Ali, no poder há 23 anos.

Nos últimos dois meses, protestos reuniram milhares de jovens em países como Reino Unido, França, Grécia, Itália, Turquia e Venezuela.

Enquanto o movimento estudantil ressurge mundo afora, no Brasil, ele segue tímido: não reúne quantidade expressiva e sofre descrédito por conta do assédio ou da ligação com partidos políticos.

Há menos de um mês, em Brasília, apenas 80 jovens foram ao Congresso Nacional reclamar do aumento de 62% no salário de parlamentares.

Em São Paulo, o Folhateen acompanhou manifestantes nos dias 13 e 20, em passeatas contra a nova tarifa do ônibus (R$ 3). Os protestos foram organizados pelo Movimento Passe Livre.

No dia 20, segundo o primeiro-tenente da Polícia Militar André Zandonadi, 3.000 pessoas estavam na Paulista.

Era a primeira manifestação de Gabriel Casnati, 16. "É uma causa que merece. Vi que isso vai me afetar."

A reportagem encontrou por acaso o estudante Daniel Cabrel, 17, que foi do grupo de apoio do Folhateen. Ele estava em sua sexta manifestação. "É um jeito de levantar a bunda da cadeira e dizer "não quero mais isso'", diz.

Durante os atos, participantes reclamavam da baixa adesão e da presença ostensiva das bandeiras de partidos políticos, apesar de o MPL declarar ser apartidário.

"Há pessoas ligadas a partidos, mas a passagem de ônibus atinge toda a população", diz Bárbara Borba, 23.

Para Ricardo Caldas, cientista político da Universidade de Brasília, quando os movimento sociais são usados como ferramenta política, suas causas se enfraquecem. "Hoje, a juventude é menos politizada, menos mobilizada e vai menos às ruas."

Para Christina Andrews, cientista social da Universidade Federal de São Paulo, é próprio da juventude lutar por igualdade. "A motivação é a mesma há 30 anos."

"É importante que os jovens saiam às ruas", diz Caldas. "Isso mantém o senso crítico da sociedade e aponta novas lideranças políticas."
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NÚMEROS

16% dos brasileiros entre 16 e 25 anos participam de passeatas ou de protestos públicos
(Fonte: "Juventude, Consumo e Cidadania", pesquisa da ESPM)

Apenas 5% dos jovens entre 16 e 25 anos participam de entidantes estudantis
(Fonte: Pesquisa Datafolha "Jovens Brasileiros", de abril de 2008)

200 mil estudantes foram à avenida Paulista em 25 de agosto de 1992 pedir o impeachment do presidente Collor

(Fonte: "Movimentos Juvenis na Contemporaneidade", de Luis Antonio Groppo, Michel Zaidan Filho e Otavio Luiz Machad)

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EU PROTESTO

"Aqui em São Paulo o Kassab aumenta a passagem de ônibus a um preço absurdo. No Rio, tentam acabar com o passe-livre dos estudantes. Eu protesto porque isso é inadmissível, e só resistindo a gente evita os desmandos dos governantes. Mas se cada um pensa que assim saísse pra protestar, aí surtiria mais efeito. O que não adianta é ficar parado."

Uirá de Sá Ozzetti, 18, é estudante e milita na Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre e no PSTU

EU NÃO PROTESTO

"Não protesto. Nas manifestações de rua, as pessoas acabam sendo mal vistas, porque os outros acham que elas só estão fazendo algazarra. É claro que acho importante mobilização para defender direitos, mas deveria ser toda a população,e não só os estudantes. Gostaria de mudar, porque as pessoas estão baixando a cabeça, mas não teria coragem de ir às ruas."

Mariana Alves da Silva, 18, estudante
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Umit Bektas-5.jan.2011 /Reuters
ORG XMIT: AGEN1101051219381451 ORG XMIT: IST05 A demonstrator throws a stone at police as they clash during protests against the government's education policies, at the Middle East Technical University (ODTU) in Ankara January 5, 2011. Turkish riot police used water cannons to prevent demonstrating university students from marching to the ruling Justice and Development Party headquarters. REUTERS/Umit Bektas (TURKEY - Tags: POLITICS CIVIL UNREST)
Estudante durante protesto na Turquia
Andrew Winning/Carlos Garcia Rawlins/Umit Bektas/Reuters
1. Andrew Winning/Reuters 2. Carlos Garcia Rawlins/Reuters 3. Umit Bektas/Reuters
No REINO UNIDO, revolta contra o aumento das taxas universitárias diante do Parlamento (12.set.2010); na VENEZUELA, jovens criticam o presidente Hugo Chávez e são recebidos com jatos d'água pelo Exército (23.dez.2010); Na TURQUIA, enfrenta polícia durante passeata em prol de uma melhor política educacional (15.dez.2010)
Alkis Konstantinidis/Fethi Belaid/Marcelo Camargo/Alessandro Bianchi/AP/AFP/Folhapress/Reuters
1. Alkis Konstantinidis/Associated Press / 2.dez.2010 2. Fethi Belaid/France Presse / 14.jan.2011 3. Marcelo Camargo/Folhapress / 27.dez.2010 4. Alessandro Bianchi/Reuters / 22.dez.2010
Na GRÉCIA, jovens reagem à crise econômica entrando em choque com a polícia (2.dez.2010); Na TUNÍSIA, morte de jovem é estopim para revolução que derrubou o ditador Ben Ali, no poder havia 23 anos (14.jan.2011); No BRASIL, jovens vão ao Congresso Nacional protestar contra aumento de mais de 60% no salário dos parlamentares (27.dez.2010); Na ITÁLIA, estudante veste máscara contra os cortes nas verbas das universidades e segura cartaz que diz "Snif, snif. Isso cheiro a ditadura" (22.dez.2010)

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