CaçadaEram criaturas perfeitas e, como anjos, não possuíam sexo. Andróginos, podiam se amar de todas as formas. Então se amavam de todas as formas que podiam: se rendendo somente aos limites do possível, pois também eram natureza: Tinham suas leis. As leis de sua natureza, ao mesmo tempo, guiavam e restringiam a sua forma de amar. Pior era o desejo de impossível, pois para elas também o impossível existia.
— Pecado é somente o inalcançável! — Gritavam e eram chamados de hereges pelas mesmas pessoas que desejavam seus corpos perfeitos.
Muitos eram chamados ao desejo, poucos se entregavam e, dos que se entregavam, menos ainda se arrependiam. Seguidores fiéis de seus instintos, amantes de sua natureza, devotos do ego.
— Meu ego é o único Deus a quem presto tributos! Quero um outro corpo! À vista e às costas! — Era assim que o coro cantava diante do altar: Sexo no outro sexo no outro sexo, uma orgia monumental e sagrada.
Não demorou muito e logo acenderam-se archotes, queimaram-se velas. “Queimem as bruxas! Meu Deus só permite o que minha consciência bem aceita, condena tudo o que não me deixa dormir à noite! Quero o sacrifício, o chicote!”, era o hino entoado por suas turbas armadas.
As criaturas perfeitas, por sua vez, resistiram na aceitação do que negavam, mas ainda se imaginavam sagrados. Era o começo de uma grande mentira, era a subordinação quista à custa da idéia de continuidade asilada num futuro incerto. A coragem vencida e a possibilidade de um prazer completo. O ver que sim. O ter que não.
Escondidos, procriaram e se multiplicaram; inclusive por entre àqueles que os perseguiam. Também estes eram fauna da floresta dos desejos.
Roberto Denser
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