Ao som de Mapa do meu nada – Cássia Eller
Muito do que sentia não se explicava. Por isso quando alguém lhe perguntava o que tinha, ele sempre soltava: Nada. Seus olhos, no entanto, provavam o contrário e por esse motivo ele nunca olhava nos olhos de quem lhe fazia essa pergunta.
Estava em uma festa, apartamento de uns amigos, muita bebida, baseados rolando de boca em boca e Janis tocando no aparelho de dvd. Um grupinho estava sentado no chão da sala por entre almofadas, fumavam e conversavam sobre sexo. Um outro grupinho formava um semicírculo num canto próximo da janela, onde ele estava, fitava o vazio com um olhar distante quando Mel se aproximou. Ela lhe ofereceu um copo com vinho e falou:
– Ta tudo bem contigo, Dé?
Ele bebericou o vinho e, sem olhar para ela, respondeu:
– Sim.
Ela pareceu realmente decepcionada com a resposta curta e direta e o silêncio que a seguiu. Acendeu um cigarro, pensativa.
– Você não quer dar uma volta? – Perguntou – Eu pego uma garrafa de vinho aqui com o pessoal e gente dá uma saidinha, que tal? Você não vai precisar me dizer nada, a noite ta uma maravilha e quem sabe você não se anima mais um pouco, hã?
Ele permaneceu calado, introspectivo.
– Ah, Dé, você não vai me negar isso, né? Vamos!
Ela saiu sem esperar resposta, pegou uma garrafa de vinho tinto na geladeira e duas taças, depois falou para todos, o mais alto que pôde:
– Pessoal, eu vou dar uma voltinha com o Dé, mas voltamos, ok?Eles ficaram em silêncio, tentaram convencê-la a ficar, mas acabaram assentindo. Mel foi até a janela e puxou André pelo braço. Ele hesitou um pouco e depois se deixou levar.
A noite estava clara e movimentada. Eles caminharam de mãos dadas e em silêncio por uns cinco minutos. Foi ele quem falou primeiro:– Acho que estou apaixonado, Mel.
Ela assentiu com a cabeça e então sentiu um calafrio. Então era isso, pensou, claro, eu devia ter imaginado...Passaram-se alguns minutos até que ele resolvesse falar mais alguma coisa.
– Eu estou apaixonado por você.Ela sentiu-se tépida por dentro, dormente por fora. Seu coração começou a bater rapidamente e ela teve vontade de soltar sua mão na mesma hora. Tentou falar alguma coisa, mas não havia voz e, mesmo que houvesse, ela não saberia o que falar.
Um pouco adiante estava o mar, eles se aproximaram, tiraram as sandálias e sentaram-se na areia. Melissa abriu a garrafa de vinho e encheu as taças. Eles começaram a beber, Melissa bebia avidamente. Ele notou isso e comentou:– Se continuar bebendo assim tão rápido, vai acabar ficando bêbada.
Ela não lhe deu ouvidos, bebeu mais um longo gole e então falou com a voz completamente insegura:
– André, quero transar com você.
André nunca em sua vida se sentira tão surpreso, excitado e medroso. Seu coração parecia querer arrombar o tórax e sair voando dali. Pegou a garrafa de vinho e deu um longo e demorado gole, no gargalo. Ela sorriu.
– Eu estou tão insegura quanto você, Dé, mas eu quero fazer isso. Não me pergunte os motivos exatamente, pois eu não sei. Sei apenas que não posso me apaixonar por você, mas quero ao menos por um instante ter você dentro de mim.
Ele olhou para o lado e falou com a voz trêmula:
– Você ta ficando bêbada.
Ela sorriu.
– Você sabe que não.Nesse momento, ela aproximou o rosto e, com os lábios ainda úmidos de vinho, lhe deu um beijo de leve. Ele retribuiu-lhe o beijo de forma insegura e depois mais avidamente. Havia um breve sentimento de culpa em seu peito, mas havia muito tesão em suas calças e isso era suficientemente mais forte do que qualquer consciência pesada que pudesse ter pelo motivo em questão.
– Melissa... – tentou falar, mas jamais terminaria àquela frase.
Ela se afastou olhando em seus olhos e André percebeu que ela estava chorando. Sentiu-se culpado e quis abraçá-la, contudo ela se afastou e levantou sem pressa. Começou a despir-se, ficando apenas com suas roupas de baixo, e falou olhando para o mar:
– Ali, André.
Ela caminhou a passos lentos e mergulhou no mar. Ele permaneceu sentado por mais um momento, fitando-a, desejando-a, o mesmo corpo que por várias vezes havia protagonizado o papel de amante em suas fantasias.
– Te amo... – murmurou para si -, te amo, minha irmã...
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