FHC: Sob Lula, assiste-se à ‘cupinização do Estado’


O PSDB tem dois candidatos ao Planalto, José Serra e Aécio Neves. Em campanha, fazem de tudo, menos oposição.

Quem vai à boca do palco para bater em Lula é o presidente de honra do tucanato, Fernando Henrique Cardoso.

Nesta segunda (23), FHC vergastou o sucessor numa palestra na Associação Comercial de São Paulo.

A certa altura, comparou a fisiologia que grassa sob Lula à “praga do cupim”. "Estamos sofrendo a cupinização do Estado brasileiro...”

“...O loteamento dos cargos acabou sendo ocupado por políticos, que substituem os técnicos capacitados".

Lero vai, lero vem, FHC apelidou o PAC de "Plano de Aceleração da Comunicação". Disse que os investimentos públicos correspondem a escasso 1% do PIB.

Algo que compromete a conclusão dos projetos. "É propaganda, para fingir que o setor público vai substituir o privado".

Para FHC, Lula não soube aproveitar, entre 2003 e 2008, os "anos de ouro" da economia. Acha que o sucessor descuidou das contas públicas e não investiu em infra-estrutrua.

Acha também que o governo desperdiçou dinheiro na indústria naval: "Estamos inaugurando estaleiros com dinheiro público".

Ouviu-o uma platéia de proto-oposicinostas. Entre eles os dois dirigentes máximos do DEM: Rodrigo Maia e Jorge Bornhausen, presidente e presidente de honra dos ‘demos’.

A audiência incluiu ainda neo-aliado Orestes Quércia (PMDB-SP) e os ‘demos’ Marco Maciel (PE) e Guilherme Afif Domingos, secretário do governo Serra.

Foi para esses ouvidos avessos a Lula que FHC disse que falta tônus ao discurso da oposição, hoje restrito ao ambiente do Congresso.

Disse que é preciso falar aos brasileiros com “convicção firme”. Ensinou: “Tem que bater. Só quem resiste é capaz de mudar".

Declarou que o atual sistema de representação política está “bambo”. Enxerga um “abismo” entre a sociedade e a política.

Afirmou que a onda de denúncias que engolfa o Senado inibe a ação parlamentar da oposição e fortalece o Executivo.

Levou a mão, uma vez mais, ao porrete: "O presidente Lula precisa parar de passar a mão na cabeça de quem faz coisa errada".

No afã de “bater”, FHC foi como que acometido de um surto de amnésia. Esqueceu, por exemplo, que sua gestão também teve uma versão do PAC.

Chamava-se “Brasil em Ação”. Uma peça que, por marqueteira, não produziu a “ação” que trazia enganchada no nome.

FHC esquivou-se de recordar também que sua presidência foi tão fisiológica quanto a de Lula. A troca de apoio congressual por verbas e cargos é coisa antiga.

Tancredo Neves teve a ventura de morrer antes de pôr em prática a armadilha que engendrara nas composições políticas que se formaram ao seu redor.

Herdeiro dos acordos do morto, José Sarney honrou-os gostosamente. Fernando Collor renovou-os tarde demais. Caiu. Itamar Franco preservou-os.

E FHC vestiu-os com traje intelectual, situando-os em algum lugar entre as duas éticas de Max Weber, a da convicção e a da responsabilidade.

FHC também teve, a propósito, as suas crises de Senado. Na maior delas, Jader Barbalho (PMDB-PA) foi cozido num caldeirão de denúncias que incluía desvios de R$ 2 bilhões na Sudam da era tucana.

Hoje, a desfaçatez proliferou de tal forma que Weber tornou-se descartável.

Falidas as ideologias, o templo da política consolidou-se como uma congregação de homens de bens.

Vigora no Congresso a lógica do negócio. Tudo se subordina a ela, inclusive os escrúpulos. E os mandarins do Planalto, o atual e os anteriores, não são culpados. São cúmplices.

FHC terminou o seu dia nos estúdios da TV Cultura, a boa emissora bancada pelas arcas do governo de São Paulo. Foi o entrevistado do “Roda Viva”.

Deu-se horas depois de Lula ter declarado, em Pernambuco, que entregará ao sucessor um Brasil “muito mais preparado” do que o país que recebeu.

À sua maneira, FHC aquiesceu. Mas tratou de avocar para si um pedaço do êxito. Ao discorrer sobre a encrenca financeira que sacode o mundo, disse:

"O Brasil está muito mais preparado agora para enfrentar crises do que antes, isso graças ao que fizemos...”

“...Eu não sou otimista como ele, mas o presidente da República tem que ser, por natureza, otimista. É possível que o pior tenha passado lá fora, mas aqui eu não sei”.

Na passagem por Pernambuco, Lula fora confrontado com a seguinte pergunta: “Acha que Fernando Henrique está falando demais”?

Respondeu: “Eu acho que tem presidente que fala demais”. Prometeu que, quando deixar o Planalto vai mostrar como se deve proceder.

“Se for o meu candidato ou se for o adversário que ganhe, eu quero que eles governem sem me meter. E aí eu vou pensar o que eu vou fazer da vida...”

“...Eu sou muito jovem ainda. Só tenho 63 anos. Quando eu deixar a presidência vou ter 65...”

“...E um pernambucano que não morre até os cinco anos de idade, chega aos 65 anos com a potência de um jovem de 30”.


blog do josias

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