Por: Fabiano P. Silva
Agosto de 1989. 21 de agosto de 1989, pra ser mais preciso. Foi esta a data que morreu Raul Seixas. Uma data muito simbólica e um artista que vigora em ato.
No imaginário popular o mês de agosto é o mês dos desastres, dos acontecimentos ruins. Quantas personalidades não já morreram neste mês, não é mesmo? Mas você lembra de alguma que morreu no mês de março, por exemplo? Certamente muitas. Todo mês morre gente. Mas, de acordo com o senso comum, o mês de agosto é que é o problema: mês do agouro, mês do desgosto e por aí vai.
O ano de 1989 também nos remete a algumas reflexões. Neste mesmo ano, Raul não viajaria sozinho para o desconhecido: o cantor Luiz Gonzaga, o ator Lauro Corona e o pintor e escultor Salvador Dali também iriam com ele. Ainda em 89, ruía o muro de Berlim levando junto uma parte do sonho socialista. Aqui no Brasil, acontecia a primeira eleição direta para presidência da República depois de 29 anos de “sinal fechado” e poucos meses faltava até a virada para a próxima década: os anos 90.
Na música anos 80, Raul Seixas cantava o seguinte: “Hey! Anos 80!. Charrete que perdeu o condutor. Hey! Anos 80! Melancolia e promessas de amor.”. Tentar imaginar o que Raul diria dos anos 90 e dos anos 2000 seria um interessante exercício e daria um bom artigo sobre o talvez. Mas este não é o nosso propósito. Afinal, a década de 90 foi a década do Grunge e do Mangue Beat. Todos dois “movimentos” de releituras. O primeiro, do Rock pesado dos anos 70 das guitarras do Black Sabbath, só que com vinte anos à frente, um sonoridade mais barulhenta e temas do universo teenager. Já o segundo, também com 20 anos a frente do Tropicalismo e uma idéia que se aproximava dos planos de Gil e Caetano: mesclar a cultura pop estrangeira com manifestações tradicionais brasileira, misturar o brega com o chic etc. e assim criar uma nova estética que surja dos elementos que já existe, como uma dialética. E o que é que Raul tem a ver com isso? Raul misturou Baião com Rock and Roll.
As vanguardas quase sempre apresentam seu manifesto expondo seus objetivos e a linha de sua atuação conforme sua leitura de mundo ou filosofia. Esta afronta tem como finalidade rever os antigos valores e abrir brechas para um novo olhar sobre a vida. Já a “[...] arte não se contenta em estar presente, pois ela significa também uma maneira de representar o mundo, de figurar um universo simbólico ligado à nossa sensibilidade, à nossa intuição, ao nosso imaginário, aos nossos fantasmas” .
Assim sendo, Raul Seixas foi vanguarda e fez de sua arte um meio através do qual ele poderia materializar suas representações e leituras de mundo:
“[..] a solução é alugar o Brasil” ; “[...] a civilização se tornou tão complicada, que ficou tão frágil como o computador, que se uma criança descobrir o calcanhar de Aquiles com um só palito para o motor [...]” ; “O sol da noite agora está nascendo. Alguma coisa está acontecendo, não dá no rádio nem está nas bancas de jornais [...]” ; “[...] minha mãe me disse há um tempo atrás, onde você for Deus vai atrás. Deus vê sempre tudo que cê faz, mas eu não via Deus, achava assombração [...]” .
É por estas e outras que a obra de Raul é atemporal. E se um dia o computador de fato parar, além de outras coisas, vão chamá-lo de profeta. Me parece até que já o chamaram disso também, né mesmo?
[1] JIMENEZ, Marc. O que é estética. São Leopoldo, RS: ED. UNISINOS, 1999. p. 10.
[1] Aluga-se.
[1] As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor.
[1] Novo Aeon.
[1] Paranóia.
0 comentários:
Postar um comentário