Para EUA, declarações do Irã reforçam "intenções nefastas" de seu programa nuclear


Colaboração para a Folha

As últimas declarações do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, sobre seu programa nuclear e a fabricação de centrífugas nucleares mais rápidas provam as "intenções nefastas" do país, afirmou nesta sexta-feira o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley.

Nesta sexta-feira, Dia Nacional de Tecnologia Nuclear no Irã, Ahmadinejad afirmou que o país manterá seu programa nuclear pacífico e rejeitou a pressão cada vez maior dos Estados Unidos. O líder iraniano também anunciou novas centrífugas e disse que o avanço nuclear não tem volta.

"Temos que concluir que o Irã tem intenções nefastas com seu programa nuclear e é exatamente por isso que continuamos a trabalhar com a comunidade internacional em medidas adicionais, sanções, para mostrar ao Irã que há uma consequência se não atenderem às obrigações", disse.

"Se o Irã quer que a comunidade internacional acredite quando assegura que suas intenções são pacíficas em matéria nuclear, então não tem necessidade de uma centrífuga de terceira geração", explicou o americano.

Dia nuclear

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou nesta sexta-feira, Dia Nacional de Tecnologia Nuclear, que o país manterá seu programa nuclear pacífico "quer seus inimigos queiram ou não" e rejeitou a pressão cada vez maior dos Estados Unidos alertando que "cortará a mão de qualquer país antes que ataque o Irã".
Vahid Salemi/AP
Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, discurso no Dia Nacional da Tecnologia Nuclear e diz que vai manter plano nuclear
Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, discurso no Dia Nacional da Tecnologia Nuclear e diz que vai manter plano nuclear
Ahmadinejad normalmente aproveita a data nacional para revelar ao mundo os mais recentes avanços em sua tecnologia nuclear, o que sempre aumenta as tensões por possível uso do programa nuclear para fabricação de armas --acusação que Teerã nega.

Ahmadinejad mostrou ainda nesta sexta-feira a terceira geração de centrífugas de enriquecimento de urânio, cerca de dez vezes mais veloz que a primeira geração.
Ahmadinejad reiterou ainda que o programa nuclear iraniano tem apenas fins pacíficos, o que o Ocidente questiona. "Nós somos por princípio contra as bombas atômicas. Para nós, armas de destruição em massa são desumanas", disse.

O presidente disse ainda que os avanços no programa nuclear são uma reação à falta de cooperação dos países. "Se não recebemos combustível, nós produziremos nosso próprio. Nós podemos fazer sem estes países que exercem pressão sobre nós".

Centrífugas

Ahmadinejad revelou mais cedo nesta sexta-feira a terceira geração de centrífugas nucleares construídas no país, em uma cerimônia para celebrar o Dia Nacional de Tecnologia Nuclear. O anúncio ocorreu às vésperas de uma cúpula de segurança nuclear nos Estados Unidos e em meio aos esforços americanos para aprovar novas sanções contra o programa nuclear iraniano.

A nova geração de centrífugas é capaz de enriquecer urânio --que pode ser usado tanto para produção de energia, quando enriquecido a 20%, quanto para fabricação de bombas, quando enriquecido a 90%-- muito mais rápido

Segundo o diretor da Agência Iraniana de Energia Atômica, Ali Akbar Salehi, a terceira geração de centrífugas tem um poder de separação dez vezes maior que o da primeira.

As centrífugas utilizadas atualmente pelo Irã são adaptadas de um design de 1970 e sofrem com quebras e mau funcionamento. Há anos, Teerã testa novos modelos.

Não se sabe ainda quando estas novas centrífugas serão colocadas em uso, o que analistas apontam como passo significativo no programa nuclear iraniano.

Falta de acordo

O Irã recusou um projeto de acordo apresentado por seis potências em outubro do ano passado, com a mediação da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA). O projeto previa que a entrega por parte do Irã à Rússia de 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% para o enriquecimento a 20%, antes de ser transformado pela França em combustível para o reator de pesquisas de Teerã, que fabrica isótopos para produtos médicos.

Teerã justificou a recusa com a afirmação de que o projeto de acordo não apresentava as garantias necessárias para a entrega do combustível. Depois disso, o país apresentou uma contraproposta para um intercâmbio gradual e oscilou acenos de diálogo com duras declarações sobre a soberania de seu programa nuclear.

Com a paralisação das negociações, o Irã começou a enriquecer o urânio a 20% em fevereiro passado, mesmo diante da repreensão das potências. Desde então, os EUA lideram uma campanha pela nova rodada de sanções.

A primeira usina nuclear do Irã deve ser inaugurada ainda este ano, na cidade de Bushehr, com ajuda da Rússia. O Irã planeja construir cerca de 20 usinas nucleares e Ahmadinejad anunciou ainda os planos futuros de exportar esta tecnologia.

Acredita-se que o Irã tenha duas plantas de enriquecimento de urânio e anunciou em fevereiro passado que planeja começar a construção ainda este ano de mais duas instalações nas montanhas do país, bem protegido de ataques internacionais.

Irã diz que vaio instalar mais de 50 mil centrífugas em sua principal instalação de enriquecimento na cidade de Natanz. Atualmente, há cerca de 9.000 centrífugas no local.

A ideia de Washington é que o novo documento fosse aprovado até o próximo mês, antes de uma conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o Tratado de Não Proliferação, marcado para maio. Fontes ligadas ao processo dizem, contudo, que as negociações devem ser arrastadas até junho.

Ontem, os cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU --EUA, Rússia, França, Reino Unido e China--, mais a Alemanha se reuniram em Washington para debater as novas sanções. A reunião foi avaliada como construtiva, mas inconclusiva, diante da resistência de Pequim.

Com agências internacionais

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