Ajuda humanitária a Haiti vira novo capítulo de "escândalo da comida" na Venezuela


FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
Um barco venezuelano que levaria 60 contêineres de alimentos a serem doados ao Haiti voltou à Venezuela sem entregar a carga. O motivo, segundo os principais jornais venezuelanos, é que a comida estava fora do prazo de validade e o navio foi impedido de atracar na vizinha República Dominicana.
O caso sobre o qual as autoridades venezuelanas não haviam se pronunciado ontem-- pode ser mais um capítulo de um escândalo que acossa o governo Chávez desde o fim de maio.
No último dia 21 foram achados mais de 2.000 contêineres com alimentos importados pelo governo fora do prazo de validade ou já podres em Puerto Cabello, o principal porto do país. A comida era de responsabilidade da Pdval, a subsidiária da estatal petroleira Pdvsa criada para comprar e distribuir alimentos.
O navio Santa Paula, que deveria ter entregue as doações ao Haiti parte do esforço de ajuda pós-terremoto de janeiro, está atracado também em Puerto Cabello, informam os abertamente oposicionistas "El Nacional", "El Universal" e "Tal Cual".
O caso apareceu ainda no jornal "Últimas Notícias", o mais vendido do país e que, à diferença dos demais, publica colunas de governistas e reportagens sobre fatos positivos da gestão. O diário tem publicado várias reportagens sobre o escândalo da comida e, no domingo passado, citou que Chávez recebeu informe sobre o caso, detalhando esquemas de corrupção.
O presidente já falou do episódio e ordenou, na TV, investigação implacável. Defendeu, porém, a Pdvsa e a subsidiária, que abastecem a popular rede de minimercados a preços subsidiados.
Um ex-presidente da Pdval está preso. O esquema envolveria importar alimentos acima da capacidade para ganhar propinas dos vendedores, negociar com o dólar subsidiado para compra e comida ou ganhar comissões com o pagamento de aluguel de contêineres e galpões.
O tema é delicado no momento que a Venezuela --e também os minimercados do governo-- enfrentam períodos de escassez de alguns produtos e quando Chávez anunciou guerra contra os empresários que acumulariam alimentos em seus depósitos para provocar inflação.

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