Obama demite comandante militar no Afeganistão após críticas

Alessandra Corrêa
Da BBC Brasil em Washington



O general Stanley McChrystal
McChrystal foi afastado após fazer críticas a membros do governo
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta quarta-feira a demissão do general Stanley McChrystal do posto de comandante das forças militares lideradas pela Otan no Afeganistão.
McChrystal, até então o principal comandante militar americano no país asiático, estava envolvido em uma polêmica após a divulgação de críticas feitas por ele a membros do governo, será substituído pelo general David Petraeus, o atual chefe do Comando Central dos Estados Unidos.
“Hoje eu aceitei a renúncia do general Stanley McChrystal como comandante da Força Internacional de Assistência para Segurança no Afeganistão (Isaf, na sigla em inglês, a força internacional liderada pela Otan). Eu o fiz com grande pesar, mas também com a certeza de que é o correto para a nossa missão no Afeganistão, para os nossos militares e para o nosso país”, disse Obama, após reunir-se com McChrystal pela manhã na Casa Branca.
A saída de McChrystal ocorre um dia depois de virem a público as críticas feitas pelo general a membros do governo americano, publicadas em um perfil na revista Rolling Stone que chega às bancas americanas nesta sexta-feira.
Após a divulgação dos comentários, McChrystal, que já havia se desculpado, foi convocado por Obama de volta a Washington para explicar suas declarações.
No artigo, o general faz críticas ao vice-presidente, Joe Biden, ao embaixador americano no Afeganistão, Karl Eikenberry, ao assessor de Segurança Nacional, James Jones, e ao enviado especial americano ao Afeganistão e ao Paquistão, Richard Holbrooke.
Conduta
“A conduta representada no artigo recentemente publicado não segue os padrões que devem ser estabelecidos por um comandante”, disse Obama.
General foi um dos responsáveis por estratégia no Afeganistão
“Enfraquece o controle civil das Forças Armadas que está no centro do nosso sistema democrático. E corrói a confiança necessária para nossa equipe trabalhar unida para atingir nossos objetivos no Afeganistão”, afirmou o presidente.
Obama disse que, como comandante-em-chefe das Forças Armadas, é sua tarefa assegurar que nenhuma distração atrapalhe a missão americana no Afeganistão.
“Isso inclui a adesão a um rígido código de conduta. A força e a grandeza das nossas Forças Armadas estão enraizadas no fato de que esse código se aplica igualmente a soldados recém alistados e aos generais que os comandam”, afirmou.
“Também é verdade que a nossa democracia depende de instituições que sejam mais fortes que indivíduos. Isso inclui a rigorosa adesão à cadeia de comando militar e o respeito ao controle civil sobre essa cadeia de comando”, disse Obama.
Estratégia
O presidente disse que sua decisão não foi motivada por diferenças com McChrystal em relação à estratégia do país nem por qualquer tipo de sentimento de “insulto pessoal”, e elogiou o general.
A conduta representada no artigo recentemente publicado não segue os padrões que devem ser estabelecidos por um comandante.
Barack Obama, presidente dos EUA
“Stan McChrystal sempre demonstrou grande cortesia e cumpriu minhas ordens fielmente. Tenho grande admiração por ele e por seu longo registro de serviço”, disse Obama.
“Nos últimos nove anos, com os Estados Unidos lutando guerras no Iraque e no Afeganistão, ele conquistou uma reputação como um dos melhores soldados da nossa nação. Sua reputação é baseada em sua extraordinária dedicação, sua profunda inteligência e seu amor ao país.”
McChrystal havia assumido o comando das forças no Afeganistão em maio do ano passado e participou das discussões sobre a nova estratégia americana no país, inclusive o envio de 30 mil homens adicionais.
Obama disse, porém, que tem a responsabilidade de fazer o que for necessário para que os Estados Unidos possam ser bem sucedidos no Afeganistão e derrotar a rede extremista Al-Qaeda.
“Acredito que essa missão exige união de esforços dentro da nossa aliança e da minha equipe de segurança nacional. E não acho que possamos sustentar essa união de esforços e atingir nossos objetivos no Afeganistão sem fazer essa mudança”, afirmou.
O presidente disse ainda que é favorável ao debate dentro de sua equipe. “Mas não vou tolerar divisão”, afirmou.
Reação
O porta-voz da Presidência do Afeganistão, Wahid Omar, disse lamentar a saída de McChrystal, mas elogiou Petraeus.
“O general McChrystal era um parceiro importante e confiável para o governo e o povo afegão e nós esperávamos que isso não acontecesse. No entanto, este é um assunto interno do governo dos Estados Unidos e nós respeitamos a decisão do presidente Obama”, disse o porta-voz.
“Nós estamos ansiosos para trabalhar com o general Petraeus, um soldado muito experiente, que o presidente (do Afeganistão, Hamid) Karzai conhece bem”, afirmou.
Ao anunciar a saída de McChrystal, Obama disse que a troca de comando não representa uma mudança na política dos Estados Unidos para o Afeganistão.
“O general Petraeus participou inteiramente da nossa revisão (da estratégia)”, disse Obama. “E ele ajudou a projetar a estratégia que temos atualmente.”
Petraeus deverá assumir o posto assim que for aprovado pelo Congresso americano.
“Peço ao Senado que o confirme em sua nova tarefa o mais rápido possível”, disse Obama.

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