Rejeição de asilo brasileiro a iraniana não afeta relações bilaterais, dizem diplomatas


DE SÃO PAULO
DA AGÊNCIA BRASIL

As relações bilaterais entre Irã e Brasil não deverão ser afetadas pela sinalização do governo iraniano de que rejeitará a proposta de asilo político oferecida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43, condenada à morte por apedrejamento por adultério.

Mais cedo, o porta-voz da chancelaria iraniana, Ramin Mehmanparast, disse que Lula é uma pessoa "muito humana e emotiva", mas que não recebeu informações suficientes sobre o caso.

AP
Foto divulgado pela Anistia Internacional em Londres mostra Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério
Foto divulgada pela Anistia Internacional em Londres mostra Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério
Diplomatas que acompanham o processo disseram à Agência Brasil que é natural e normal a reação iraniana. Eles ainda confiam, contudo, na possibilidade de reduzir a cruel pena de apedrejamento de Ashtani --cuja história rendeu uma mobilização internacional-- o que considerariam um efeito positivo do apelo de Lula.

Eles afirmam ainda que nas relações bilaterais, as questões políticas que envolvem as negociações comerciais e econômicas são articuladas de forma independente.

Mãe de dois filhos, Ashtiani recebeu 99 chicotadas após ter sido considerada culpada, em maio de 2006, de ter uma "relação ilícita" com dois homens. Depois, foi declarada culpada de "adultério estando casada", crime que sempre negou, e condenada a morte por apedrejamento.

O anúncio de que a aplicação da pena poderia ser iminente despertou uma grande mobilização internacional, e países como França, Reino Unido, EUA e Chile expressaram suas críticas à decisão de Teerã. O governo islâmico disse então que suspenderia a pena, até segunda ordem.

O presidente brasileiro fez a proposta de asilo no último sábado (31), durante um comício em Curitiba, no Paraná. "[Apelo para que] permita ao Brasil conceder asilo a esta mulher", disse, em recado ao colega iraniano, Mahmoud Amhadinejad. Dias antes, ele havia se negado a aderir à campanha pela libertação, dizendo ser "avacalhação" interferir em assuntos legais de outros países.

Mesmo antes da resposta iraniana, ativistas que atuam na campanha em defesa a Ashtiani já diziam que a atuação do presidente brasileiro foi demorada.

A iraniana Mina Ahadi, diretora da ONG que coordena a campanha em favor de Sakineh, disse que o apoio de Lula é importante, mas demorou. "Lula se diz próximo do presidente [do Irã] Mahmoud Ahmadinejad, a quem chama de irmão, mas jamais falou das violações de direitos humanos", disse, de acordo com reportagem de Marcelo Ninio, correspondente da Folha de S.Paulo.

Brasil e Irã mantêm uma estreita relação política e econômica que gerou, inclusive, críticas dos Estados Unidos.

Em maio, Lula esteve em Teerã e mediou o acordo para transferência de urânio levemente enriquecido do Irã para a Turquia como meio de a comunidade internacional apoiar o programa nuclear iraniano. Ele defende que o Irã tem direito, assim como o Brasil, de manter um programa nuclear pacífico.

A proposta foi rejeitada pela maioria dos países.

O Brasil e a Turquia foram os países que votaram contra as sanções ao Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em junho. Doze países apoiaram as restrições, enquanto o Líbano se absteve da votação. Atualmente, o Irã sofre medidas restritivas do conselho, da União Europeia, do Canadá e dos Estados Unidos.

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