Irã executa mulher de ex-jogador acusada de assassinato

Caso lembra o de Sakineh, outra iraniana que corre o risco de ter o mesmo fim

A iraniana Shahla Jahed dá declarações durante julgamento em Teerã, em junho de 2004. A iraniana Shahla Jahed dá declarações durante julgamento em Teerã, em junho de 2004. (AFP)
 
"Existem boas razões para sugerir que poderia ter sido erroneamente processada. Não deveriam fazê-la pagar com sua vida"

Malcolm Smart, da Anistia Internacional

A iraniana Shahla Jahed, condenada à morte pelo assassinato da primeira mulher de um famoso ex-jogador de futebol iraniano foi executada nesta quarta-feira. Pouco após o amanhecer, ela teria sido enforcada em um dos pátios da prisão de Evin, situada no norte da capital, informou a agência estatal de notícias Irna.

Ela foi acusada de esfaquear até a morte a ex-mulher de Nasser Mohammad Khani, Laleh Saharkhizan, em 2002. Inicialmente, chegou a admitir a culpa, mas depois se retratou diante da corte que a julgava em um procedimento cheio de pontos obscuros e contradições. O desportista, que também treinou com a conhecida equipe iraniana Persepolis, esteve vários meses na prisão como suspeito de cumplicidade no crime, mas foi colocado em liberdade após a confissão e Shahla.

Os dois foram amantes e atualmente viviam sob um contrato de casamento temporário, chamado sigheh. Trata-se de uma prática contemplada na jurisprudência islâmica xiita vigente no Irã que permite a homens e mulheres viverem juntos sem serem acusados de adultério, durante um período limitado e mediante pagamento de uma soma estipulada de dinheiro à esposa. Os homens iranianos têm direito a ter até quatro mulheres "permanentes" e quantas "temporárias" quiserem. Já as mulheres só podem se casar com um homem de cada vez.

Pena de morte - Na terça-feira, a Anistia Internacional havia feito um chamado urgente para que a pena de morte não fosse executada, por considerar que existiam muitas dúvidas sobre a transparência do processo judicial pelo qual foi condenada. Malcolm Smart, diretor do programa para o Oriente Médio da AI, denunciou que a pena de morte "representa a última negação dos Direitos Humanos e a maneira mais extrema de castigo cruel, desumano e degradante". "Também, neste caso, existem boas razões para sugerir que poderia ter sido erroneamente processada. Não deveriam fazê-la pagar com sua vida", apontou.

Em um comunicado, Smart lembrou que Shahla foi condenada em 2004, mas a sentença havia sido suspensa em 2008 com ordens para se reabrir a investigação. Um ano depois, porém, o veredito foi confirmado. 

"Talvez ela tenha sido cooptada a confessar durante os meses em isolamento. Retratou-se diante do juiz, mas o tribunal preferiu aceitar (a confissão) como prova", salienta ele. O caso de Jahed lembra o de Sakineh Mohammadi Ashtiani, iraniana acusada de adultério e de participação no homicídio do marido, e que corre o risco de ter o mesmo fim.

Execuções - No Irã rege uma interpretação da lei islâmica ou Sharia que impõe a pena de morte para delitos como o adultério, o assassinato, o roubo à mão armada, o terrorismo e o tráfico de drogas. A República Islâmica é, com os Estados Unidos, China e Arábia Saudita, um dos países do mundo que mais execuções realiza: 300 ao ano.
(Com agência EFE

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