Dizem Que Sou Louco: Santa Rita e Seus Vultos Folclóricos Pela ótica do Escritor José Arimatéia.


O que seria de uma cidade sem suas paisagens, suas ruas, seus rios, suas praças e, principalmente, as pessoas que a habitam? E, entre estes, os personagens folclóricos que no dia-a-dia encontramos por estas mesmas ruas, praças... Pois até hoje nunca tive conhecimento de algum lugar neste mundo que não tivesse seus “loucos”.

O que seria, enfim, de uma cidade sem a sua história, sem sua memória? José Arimatéia Alves de Santana é um dos poucos cidadãos Santa-ritense que refletiu sobre o assunto. Não só ficou no exercício da reflexão, mas foi além e dedicou dois de seus três livros à Santa Rita e seus vultos folclóricos. Em tempos atuais em que os meios de comunicação de massa (como a televisão, o rádio, a internet e a telefonia móvel) invadem o nosso dia-a-dia e transformam valores locais e individuais em valores globalizados, José Arimatéia nos propõe um retorno às nossas raízes numa leitura agradável de seus dois livros.

“Santa Rita e Seus Vultos Folclóricos” (vol. 1 e 2) foram lançados, respectivamente, em 1999 e 2000. O primeiro volume é aberto com algumas poesias seguido de algumas fotos históricas da cidade de Santa Rita, fotos estas que podem ser encontradas por todo o livro, transformando em imagens os textos ricos em descrições puxadas no fundo da memória do autor. Na seqüência, podemos encontrar um pequeno resumo histórico do surgimento de Santa Rita com suas primeiras aldeias indígenas, seus primeiros engenhos, as primeiras divisões territoriais até o surgimento da cidade propriamente dita “às margens do Paraíba do norte; a instalação das fábricas trazendo o “progresso”, a cidade se reordenando com seu mercado público, as praças, os seus bairros, as rádios, os clubes carnavalesco, os cinemas, seus cidadãos mais ilustres etc. Ainda neste mesmo texto de abertura, o autor passa a narrar recordações de seu tempo de juventude que criam no leitor ricas imagens ao tentar acompanhar as descrições de alguns personagens da cidade que hoje não vemos mais.

Na verdade este parece ser o grande barato de seus dois livros, pois na medida em que o autor vai descrevendo suas lembranças de mocidade, o leitor vai tentando acompanhar, através de imagens que vão surgindo na sua cabeça, essas descrições e ao mesmo tempo misturando com suas próprias lembranças que em alguns pontos se cruzam.

A segunda parte do livro é dedicada à seus Vultos folclóricos, ou seja, dedicado às estórias de figuras como Isabel Bandeira e seu filho Antônio Bandeira, Goiaba, Seu Baé, Guaraná, Birino, Gasolina, Sete Buchos, Seu Alegria, Calar, Boneco e tantos outros. Figuras que, por um lado, possuem histórias de vida um tanto sofrida e que por um motivo ou outro (um distúrbio mental, uma decepção...) são vistos como loucos ou “meio sem juízo”, mas que nem por isso deixam de ter estórias engraçadas. Segundo o autor diz no segundo volume: “foram doze anos de pesquisas, interrogando pessoas verdadeiramente honestas em suas declarações” e várias pesquisas em bibliotecas para compor todo o material.

Ao lermos as estórias de alguns desses personagens gostaríamos que algumas fossem maiores e com mais detalhes, com é o caso de José Antônio Bandeira (Paraíba do Forró) que com um bombo e uma gaita de cano de plástico mais parece uma orquestra ambulante. Estórias tristes também fazem parte do livro, como a do menino João que, ao ser expulso da escola por suas traquinagens, passou a roubar. Vários personagens (alguns ainda encontramos facilmente pelas ruas de Santa Rita) têm uma parte de suas vidas contadas no livro numa leitura simples e objetiva.

Aliás, o próprio autor diz que seu livro é um livro “sem inovações” e que é feito para o povo, para a massa e que tem como objetivo “mostrar as riquezas culturais e folclóricas” de Santa Rita através das “figuras simples e humildes” que compõem o livro. Mas, em alguns momentos sentimos falta de alguns pequenos detalhes como algumas fotos que estão sem datas, dificultando uma relação entre determinada imagem e sua época. Outro ponto seria a falta de uma correção ortográfica reparando pequenos erros que perpassam por todo o livro. É claro que detalhes como esses de forma alguma invalidam a leitura dos dois livros e o próprio autor diz que “não procura dar lições gramaticais”.

A simplicidade é, de fato, uma característica de sua escrita e até mesmo de seus livros. Para aquele que se interessa, pelo menos um pouco que seja, pela história da cidade em que vive e de seus personagens mais ilustres, o livro “Santa Rita e Seus Vultos Históricos” vol. 1 e 2 é um bom começo. E como diz a música: “mas louco é quem me diz e não é feliz!”.
*Tela -Jason Moraes " Auto Retrato "


Fabiano P. Silva é Comunicólogo
e Estudante de Ciências Sociais

1 comentários:

Anônimo disse...

Prezado, após leu o seu comentário acima e ler u m dos livros do José de Arimatéia (se é memo que eu conheci em sua casa na antiga rua do cer cado, praça do pirulito) constatei que no referido livro tem algumas incorreções de datas. Eu vivi intensamente na época dos persoangens citados (1958 a 1962) e até pouco tempo me encontrei com o Birino. O meu pai foi conhecidissimo em Santa Rita. Trata-se do barbeiro "josé Barbinha, residente a Rua Juarez Tavora, 9, hoje uma lan house. Se quiserem mais riquezas de detalhes favor esrever-me. Coronel José de Andrade, camaster@bol.com.br, Rio de Janeiro

Postar um comentário