Maquiavel e a Política: Compreender Para Mudar




Assistimos com certa revolta aos escândalos políticos que vêm se sucedendo ultimamente no Brasil. Políticos que, colocados pelo povo no poder com o intuito de que os representem através de seus cargos, se metem em tramas sombrias de corrupção. É bom lembrar que fatos como esses não ocorrem apenas lá em Brasília, mas são observados também dentro dos gabinetes, repartições públicas, governos estaduais, municipais e por autoridades de forma em geral. Segundo o escritor e teólogo Frei Betto “existem cinco grandes tentações do ser humano: poder, poder, poder, dinheiro e sexo”. A frase do teólogo resume bem as tentações às quais qualquer um está sujeito, mas principalmente aqueles que se encontram mais próximos do poder, ou seja, os políticos.

Maquiavel (1469 – 1527), pensador Italiano, entrou para a história ao escrever, entre outros livros, O Príncipe. Esta obra, a mais conhecida do autor, trata-se de um pequeno manual de aconselhamento para governantes em que o autor discute as seguintes questões: como chegar ao poder? Como conservá-lo? E como exercê-lo? Não podemos esquecer que Maquiavel analisa essas questões diante de um contexto político-histórico bem diferente do atual, ou seja, a Itália do século XVI.

O tema corrupção também foi estudado por Maquiavel e pode ser encontrado em vários textos seus, mas, principalmente, no livro Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio. Investigando a questão da corrupção das instituições políticas, dos regimes e dos Estados, Maquiavel afirma que qualquer organismo político está sujeito a ruína, decadência ou a corrupção. Afirma também que estes três aspectos podem levar ao fim qualquer instituição política caso nada seja feito.

Instituições como Estados, Regimes e Cidades são todas passiveis de corrupção. No caso específico da cidade, Maquiavel compara esta com um corpo político composto por várias partes como: as instituições, órgãos executivos, as leis, o poder legislativo, as magistraturas e todas as organizações que cumprem alguma função para a sua manutenção. Em se tratando da corrupção, a comparação aqui é feita com uma doença que cai sobre o corpo. Primeiramente ela atinge uma parte, mas, caso não seja curada, ela atinge o resto. A corrupção aqui é entendida como corromper, perder a ligação, romper a união essencial, ou seja, momento em que as partes vão perdendo sua ligação com o todo.

O problema é que este hábito, além de ser muito antigo aqui no Brasil, é exercido praticamente em quase todas as Cidades e Estados e principalmente lá em Brasília. Quer uma prova? É só ligar a televisão. Todos os dias vemos nos noticiários denuncias de corrupção por todo o país. Mas então, voltando às idéias de Maquiavel que compara a corrupção com uma doença que pode atingir todo o corpo, estaria o Brasil, dessa forma, a caminho da ruína e da decadência? Pelo menos no campo da política mais doente e decadente do que isto só o fim!

Neste momento de crise, Maquiavel aponta uma solução que seria a entrada em cena do Príncipe. Este é entendido como o governante que, conhecendo a situação crítica do momento, estuda os riscos e as possibilidades de uma ação com base na astúcia e força de maneira certa e adequada à ocasião. Para tanto, este Príncipe (governante) teria que ter, segundo Maquiavel, duas características essenciais: virtude e fortuna. A virtude seria uma qualificação necessária, pois o governante precisa saber como agir no momento certo. Já a fortuna é entendida como sinônimo de sorte, ou seja, saber aproveitar as oportunidades quando estas se apresentam.
Maquiavel nos ensina que o governante deve procurar compreender o momento político no qual está inserido, deve se preocupar com o agora para transformá-lo. O governante deve se ater a verdade efetiva dos fatos, analisar a realidade da forma como esta se apresenta.

Apesar de ter sido escrito há quase quinhentos anos, o livro O Príncipe de Maquiavel ainda hoje é atual e seus conselhos, se bem adaptados a nossa atual situação política, ainda se mostram muito eficazes. Ao escrevê-lo, Maquiavel tinha em mente procurar mostrar formas de ação que proporcionassem um bom governo, um governo que realmente funcione promovendo o bem estar da população.

Diante de tudo isso que foi dito até agora, podemos pensar aqui no outro lado da moeda, ou seja, no papel do povo. Maquiavel no seu livro nos apresenta o homem como um instrumento de transformação, o homem que agindo com virtude e fortuna é capaz de mudar a situação caótica na qual se encontra. O povo é formado por indivíduos e cada indivíduo, consciente de seus direitos de cidadão, pode e deve mudar a realidade a sua volta.

Os ensinamentos de Maquiavel podem nos ajudar a compreender a situação política pela qual estamos passando. E é compreendendo-a que podemos transformá-la para melhor. Como cidadãos também somos responsáveis por tudo o que está acontecendo na nossa cidade, no nosso Estado e no Brasil. E é também como cidadãos que podemos dar um basta nisso tudo. Então que tal começar fiscalizando as ações políticas da sua cidade?


Fabiano P. Silva é Comunicólogo e Estudante
de Ciências Sociais da UFPB

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