Pré-sal abre uma guerra ideológica entre PSDB e PT

O tucanato mordeu a isca de Lula. Encarou o discurso de lançamento do marco do pré-sal como uma declaração de guerra. E decidiu descer ao front.
Antecipa-se, assim, o debate plebiscitário que Lula idealizara para a disputa presidencial de 2010. De um lado, a era FHC. Do outro, a atual gestão.
No centro do embate está o modelo de exploração do petróleo: o modelo de concessão de FHC versus o modelo de partilha proposto por Lula.
Na concessão, o óleo é das empresas privadas, que remuneram o Estado com impostos e royalties. Na partilha, quem dá as cartas é a estatal Petrobras.
Lula repete agora a tática de 2006, quando prevalecera sobre o rival tucano Geraldo Alckmin num segundo turno envenenado por insinuações.
Naquele ano, o petismo insinuara que Alckmin era movido pelos mesmos pendores privatistas que levaram FHC a vender as telefônicas e a Cia. Vale do Rio Doce.
Dera-se a entender que, se eleito, Alckmin privatizaria empresas estratégicas. Entre elas o Banco do Brasil e a própria Petrobras.
O PSDB reagira às provocações com tibieza tal que deixara no ar a impressão de que se envergonhava do governo FHC.
O debate sobre as privatizações é, ainda hoje, visto como uma espécie de Waterloo tucano. Alckmin teve, no segundo turno, menos votos do que amealhara no primeiro.
A cúpula do PSDB farejou no discurso petroleiro de Lula a mesma armadilha de 2006. E decidiu adotar o ataque como tática de defesa.
Depois de uma conversa telefônica com o presidenciável tucano José Serra, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, escalou a tribuna do Senado nesta terça (1º).
O discurso de Guerra inaugura uma estratégia que se pretende afirmativa. Em vez da fuga de 2006, fez uma defesa aberta da gestão FHC.
Questionou a pressa de Lula em regular a exploração de um petróleo que só vai jorrar daqui a 16 anos. Pôs em dúvida o recuo ao modelo estatizante.
Atacou a Dilma da véspera, que discusara como coordenadora do grupo que pôs de pé o marco do pré-sal.
“A ministra disse coisas incompreenssiveis, numa retórica de iniciante na política”. Queixou-se da má educação de Lula, que atacara FHC na presença de Serra.
“Ali estava o governador de são Paulo. Por que agrdir o governo do presidente Fernando Henrique? Por que não falar do futuro?...”
“Alguns se acham donos da verdade. Crêem que os outros não tem direito a nada, tem que ser esmagados, desautorzados, desmontados. Não vai ser assim...”
“...Não importa a popularidade lula. Importa é que há um sentimento real no Brasil. A candidata oficial é a representação do lado mais primitivo do presidente Lula”.
Guerra disse que o governo terá de convencer a sociedade de que o modelo que sugere é melhor do que o que foi instituído em 1997, sob FHC.
Disse que, por ora, Lula não convenceu nem o seu próprio governo, que “está dividido”, nem a sua base de sustentação no Congresso.
Citou o colega Francisco Dornelles (RJ), líder do PP. Nas pegadas do anúncio das regras do pré-sal, Dornelles animou-se a abrir uma divergência.
Considera que o velho sistema de concessão é mais adequado do que o novo modelo de partilhas. Bastariam alguns ajustes. Que, segundo ele, seriam feitos por decreto.
O miolo do argumento de Dornelles é monetário. Alega que, para içar o óleo armazena nas profundezas, o governo precis de dinheiro.
Dinheiro graúdo. Coisa de R$ 500 bilhões a R$ 600 bilhões, pelas contas de Dornelles. É hora, segundo ele, de atrair as empresas privadas, não de afungentá-las.
Em reação a Sérgio Guerra, foi à tribuna o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP). Pronunciou uma defesa enfática do estatizante sistema de partilha.
Disse que o petróleo do pré-sal, por abundante, deve ser explorado sob o controle do Estado. Daí as virtudes do sistema de partilha, que privilegia a Petrobras.
Mercadante argumentou que o governo respeitará os contratos de exploração do pré-sal que já haviam sido celebrados sob o regime da concessão.
Disse, de resto, que o modelo de 1997 continuará a ser aplicado nos poços de petróleo que estão fora da área do pré-sal.
Presente, Dornelles discordou de Mercadante em aparte. O petista replicou. “Não me convenceu”, treplicou Dornelles, uma voz respeitada do governismo.
Na Câmara, por onde os projetos do pré-sal começam a tramitar, o bloco de oposição –PSDB, DEM e PPS— iniciou uma obstrução.
Exigem do governo a retirada da urgência constitucional, que obriga o Legislativo a deliberar em 90 dias –45 para a Câmara e 45 para o Senado.
Simultaneamente, PMDB e PT embrenharam-se numa disputa pela relatoria dos projetos. Os peemedebistas prevaleceram.
O projeto mais importante, que institui o modelo de partilha, vai às mãos do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).
O petista Arlindo Chinaglia (SP), relator indicado por seu partido terá de se contentar com uma das demais propostas.
Nos arredores de Lula, a disposição do tucanato para a briga é festejada. Alcançou-se o primeiro objetivo: a era FHC foi, como em 2006, arrastada para o centro do embate eleitoral de 2010.
Pretende-se grudar no PSDB a pecha de adversário do pré-sal. Noutras palavras: um inimigo do futuro promissor.
blog  do josias

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