No início desta semana, um estudo norte-americano afirmou que não se deve descartar a hipótese de uma próxima pandemia ser ocasionada por um vírus criado em laboratório, mas deixando algo claro: não foi o que aconteceu com o coronavírus — ou pelo menos, não há evidências concretas sobre tal feito
Agora, uma nova pesquisa realizada pela virologista chinesa Li-Meng Yan relata que sim, há evidências de que o SARS-CoV-2 foi "convenientemente criado" em um laboratório durante o período de seis meses. No artigo, publicado no site Zenote, Yan e outros dois pesquisadores contam que o vírus tem características biológicas que são inconsistentes a uma ocorrência natural, não sendo um vírus zoonótico. A declaração vem movimentando a comunidade científica desde que foi publicada, na última segunda-feira (14).
O estudo veio a público logo após Yan conceder uma entrevista ao programa Loose Women, do Reino Unido, e alegar que o novo coronavírus teve sua origem em um laboratório de Wuhan, controlado pelo governo da China. A cientista diz ainda que a informação de que o vírus surgiu em um mercado úmido da cidade não passa de uma "cortina de fumaça", então escondendo algo muito maior
Não é a primeira vez em que a virologista fala sobre o assunto, pois ela alega já ter sido censurada pelo país, precisando fugir de Hong Kong para os Estados Unidos para conscientizar as pessoas sobre a pandemia, dizendo que fez isso por medo de não estar segura. Além disso, a virologista diz que antes de fugir da China, suas informações foram removidas do banco de dados do governo.
Em dezembro do ano passado, outro estudo feito pela cientista alegava que o coronavírus tinha uma alta transmissibilidade, com a médica afirmando ter sido silenciada após apresentar os resultados. No entanto, o laboratório onde ocorreu a pesquisa, o Hong Kong School of Public Health, afirma que não há registros desse estudo e que o seu novo artigo não traz base científica.
Polêmica e (muita) repercussão
Com a divulgação do estudo e das alegações da cientista, logo a comunidade médica começou a se manifestar sobre o assunto. O site Newsweek conversou com o especialista em patogênese microbiana, Andrew Preston, da Universidade de Bath, no Reino Unido, que afirmou que o relatório não deve receber nenhuma credibilidade porque ainda não foi bem revisado. Além disso, Preston diz que o documento não conta com referências que comprovem suas acusações, fator crucial para que um estudo seja levado em conta.
Outro fato a ser questionado é que o artigo foi criado por Yan e outros três colegas afiliados ao Rule of Law Society, sociedade fundada por Stephen K. Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, acusado de fraude pelo FBI. A fundação aconteceu também com a colaboração de Guo Wengui, empresário chinês que fugiu do país em 2014 depois de várias acusações, como de suborno.
Arinjay Banerjee, virologista da Universidade McMaster em Ontario, no Canadá, rebate a afirmação da pesquisadora, que no artigo diz que o sequenciamento genético do SARS-CoV-2 é uma evidência de que ele foi criado com o uso de enzimas que funcionam como "tesouras moleculares" que adicionam ou subtraem material genético. No entanto, o especialista diz que todas as sequências de DNA da natureza possuem locais de restrição. "A evidência apresentada aqui é anedótica", diz.
Banerjee também questiona a afirmação de que um recurso de local de clivagem (divisão celular) de furina, que faz parte da proteína espinhosa usada para se prender às células humanas, havia sido inserida no vírus propositalmente, duvidando da informação.
"O documento não é baseado em uma interpretação objetiva do genoma SARS-CoV-2. As interpretações feitas não são respaldadas por dados, não são substanciais e são amplamente declaradas, mas não explicadas. O artigo não parece começar com uma hipótese aberta sobre a origem do SARS-CoV-2", completa Preston.
O Twitter chegou a suspender a conta de Yan, que contava com um pouco menos de 60 mil seguidores, logo após as novas declarações aparecerem na mídia. A rede social não quis falar publicamente sobre o caso, mas em maio novas regras de combate às notícias falsas foram implementadas com foco na COVID-19, exibindo mensagens em tweets que possam provocar a confusão do leitor, o que pode significar alguma violação nessas leis.
Yan é formada em medicina pela Xyangia Medical College, com doutorado e especialização em imunologia e virologia, e tem concentrado esforços para estudar o novo coronavírus. Segundo a médica, seus relatos sobre a pandemia a levaram a buscar refúgio nos Estados Unidos, onde já fez entrevistas alegando que as autoridades chinesas estão escondendo informações sobre a doença que nos levou a um cenário de pandemia.
A especialista faz declarações contra o governo da China e até a própria OMS (Organização Mundial de Saúde), revelando que alertas sobre a letalidade da COVID-19 foram acobertados, assim como suas investigações sobre o assunto. Já a embaixada da China nos Estados Unidos diz não saber quem ela é e que, ao contrário do que ela acusa, o país lutou como conseguiu para combater a propagação do SARS-CoV-2.
Outro fato a ser questionado é que o artigo foi criado por Yan e outros três colegas afiliados ao Rule of Law Society, sociedade fundada por Stephen K. Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, acusado de fraude pelo FBI. A fundação aconteceu também com a colaboração de Guo Wengui, empresário chinês que fugiu do país em 2014 depois de várias acusações, como de suborno.
Arinjay Banerjee, virologista da Universidade McMaster em Ontario, no Canadá, rebate a afirmação da pesquisadora, que no artigo diz que o sequenciamento genético do SARS-CoV-2 é uma evidência de que ele foi criado com o uso de enzimas que funcionam como "tesouras moleculares" que adicionam ou subtraem material genético. No entanto, o especialista diz que todas as sequências de DNA da natureza possuem locais de restrição. "A evidência apresentada aqui é anedótica", diz.
Banerjee também questiona a afirmação de que um recurso de local de clivagem (divisão celular) de furina, que faz parte da proteína espinhosa usada para se prender às células humanas, havia sido inserida no vírus propositalmente, duvidando da informação
"O documento não é baseado em uma interpretação objetiva do genoma SARS-CoV-2. As interpretações feitas não são respaldadas por dados, não são substanciais e são amplamente declaradas, mas não explicadas. O artigo não parece começar com uma hipótese aberta sobre a origem do SARS-CoV-2", completa Preston.
O Twitter chegou a suspender a conta de Yan, que contava com um pouco menos de 60 mil seguidores, logo após as novas declarações aparecerem na mídia. A rede social não quis falar publicamente sobre o caso, mas em maio novas regras de combate às notícias falsas foram implementadas com foco na COVID-19, exibindo mensagens em tweets que possam provocar a confusão do leitor, o que pode significar alguma violação nessas leis.
Currículo: quem é Li-Meng Yan
Yan é formada em medicina pela Xyangia Medical College, com doutorado e especialização em imunologia e virologia, e tem concentrado esforços para estudar o novo coronavírus. Segundo a médica, seus relatos sobre a pandemia a levaram a buscar refúgio nos Estados Unidos, onde já fez entrevistas alegando que as autoridades chinesas estão escondendo informações sobre a doença que nos levou a um cenário de pandemia.
A especialista faz declarações contra o governo da China e até a própria OMS (Organização Mundial de Saúde), revelando que alertas sobre a letalidade da COVID-19 foram acobertados, assim como suas investigações sobre o assunto. Já a embaixada da China nos Estados Unidos diz não saber quem ela é e que, ao contrário do que ela acusa, o país lutou como conseguiu para combater a propagação do SARS-CoV-2.